Esta espécie não invadiu apenas agora a política, a justiça, as banheiras, os lava-louças e as sacristias. Sempre houve esponjas na ditadura e esponjas continuam a existir na democracia. E se fosse possível uma terceira coisa qualquer que não fosse ditadura nem democracia, os Esponjas encontrariam lugar. Tal como nos organismos vivos que inspiraram o comportamento de alguns humanos, os Esponjas podem ser de água doce ou salgada, alimentam-se por filtração das ideias dos outros bombeando projectos e programas através das paredes do corpo e retendo as partículas de alimento intelectual nas suas células. Daí que pouco ou nada tenham de próprio – não possuem tecidos verdadeiros, apresentam músculos, sistema nervoso, nem órgãos internos. Apesar disto, podem chegar a Presidentes da República, como reconhecimento, por vezes colectivo, da sua capacidade de lavagem, sobretudo quando um Esponja esfrega a área das finanças, ou também chegam a isso para cumprirem a função de esfregar a economia até ao branqueamento.
E há Esponjas finos como lã de carneiro, mais ásperas para lavagem de quem tenha muita lata, e também os há tão como que recobertos por bicos de pita embora não pareçam esponjas. Mas são. E quanto mais alto chegam, mais bicos de pita recobrem os Esponjas.
Na hora da verdade e que é aquela em um ser humano abre a boca, é que um Esponja mostra o que é – um ser séssil, e o que não tem – tecido próprio. Apesar disso, um Esponja reza o Pai Nosso como qualquer crente convicto e sincero, repetindo vezes sem conta “não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal. Aliás, a palavra mais cara para um Esponja é precisamente essa adversativa do “mas”. E lavam, lavam tudo. A sua função é lavar.
Bem hajam.
(Próximo episódio: Os Filipes)
Flagrante reconhecimento: A Universidade do Algarve está pela primeira vez no ranking mundial. Felizmente que ainda não é apenas Universidade do Sul, como alguns queriam e ainda querem) mas Universidade do Algarve.
Carlos Albino