SMS: Áreas de fábrica da inteligência

Opinião de Carlos Albino

 

 

Estive para colocar no título “Bibliotecas Públicas, lugares de cura”, desisti que cheirava a centro de saúde. Depois redigi “Bibliotecas Públicas, para a primeira, segunda, terceira e todas as idades”, ficou de lado – era extenso e uma misturada. A seguir, surgiu-me “Proibido brincar às Bibliotecas Públicas”, ficou de lado por poder ser acintoso e injusto para quem não brinca. Ainda fui tentado para mais uns seis ou sete títulos corrosivos mas cada um poderia sugerir que é geral, aquilo que deveras é local e excecional. Optei por “Áreas de fábrica da inteligência” e, com isto, relevar que, ao lado das autarquias e das escolas, as bibliotecas públicas tanto podem ser um degrau próximo dos pés de cada um para o futuro como meros cemitérios de livros geridos por cangalheiros da cultura ou por acompanhantes da defunta eventualmente com muitos “eventos” mas tudo espremido, R.I.P.. Assim mesmo. E entremos, mais uma vez, na questão, e não será a última.

As bibliotecas públicas, como é sabido, formam uma rede no País, um projeto iniciado em 1987, promovido pelo Ministério da Cultura, através da Direcção de Serviços de Bibliotecas do Instituto Português do Livro, e visando parcerias com os municípios. A construção desta rede que envolve 261 dos 308 concelhos do País foi sem dúvida o mais importante passo dado até hoje em matéria de política cultural. Os objetivos gerais são cativantes – animação cultural com promoção da inclusão social e da cidadania, gosto pela leitura e conhecimento do mundo, igualdade de acesso à informação e ao conhecimento, acesso a fontes de informação externas às próprias bibliotecas. Mas, na prática, o êxito destas depende de cada responsável ou diretor, da sua criatividade, nível cultural, competência e sageza. E com a importância decisiva das Tecnologias da Informação e da Comunicação, com um desenvolvimento impensável em 1987, se o responsável não for criativo e competente, a biblioteca falhará no seu objetivo de ser uma fábrica de inteligência. Basta lembrar que há bem pouco tempo, quando se queria ler um livro, era suficiente “ir à biblioteca”. Hoje, estamos perto de que caibam num portátil todos os livros produzidos na história da humanidade (estimativas entre os 42 e 130 milhões) e não tardará que caibam num telemóvel. A Wikipédia, o Google, as versões digitais da Amazon colocam já, com um clique, informações e livros à frente dos olhos. As bibliotecas como meros depósitos de livros e lugares de de culto para vaidades pessoais, estão condenadas, não sobreviverão.

Então, qual o futuro das bibliotecas em que o País e autarquias tanto investiram? O futuro é o de serem, cada vez mais, lugares de reflexão, de discussão de ideias, de exploração intelectual. Em suma, fábricas de inteligência.

A primeira e gigantesca biblioteca conhecida no mundo, foi como se sabe, a Biblioteca de Alexandria. Além de livros, ela tinha jardins, nela havia concertos e exposições de arte, e sobretudo discutia-se. Na expressão de um contemporâneo milenar dessa biblioteca matriz, “era um lugar para curar a alma”. Hoje as bibliotecas devem retomar essa fórmula inicial. E assim muito rapidamente, no que toca ao Algarve, há por aí bibliotecas que só estragam a alma, razão porque voltaremos ao assunto.

Flagrante biombo: Em matéria de subsídios designadamente com marca d’água da Europa, a transparência de uma instituição pública local ou regional, começa por informar, com rigor e atempadamente, quanto se dá, a quem se dá, com que condições se dá, quem avalia e quando se avalia… Foi pela arte de fazer pela calada, que Caim matou Abel.

Carlos Albino

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