SMS: A “mexicanização” da política local

Opinião de Carlos Albino

Em consciência, tenho que o dizer: há fortes sinais, aqui e ali no Algarve, da “mexicanização” da política local pelo que a haver nos próximos tempos alguma política regional se a regionalização avançar, da mesma mexicanização não nos livraremos. Que me desculpem os mexicanos, mas não há palavra diferente de mexicanização para caracterizar uma democracia faz de conta e em que todos os meios se justificam para manter o poder ou ganhar mais poder, numa sábia administração da legalidade com ocultação da ética e numa sábia gestão da ética com ocultação da legalidade. Ou seja, o poder pessoal a tender para o poder arbitrário, com exercício discreto do favorecimento. E a coisa exige naturalmente sabedoria, sobretudo a que leva à procura obsessiva de instrumentos de legitimação pública e de credibilização moral de atuações que contendem com a moral política e que sem colocarem em crise a legalidade fragilizam a legitimidade. Para tal forçada credibilização, a Cultura, os criadores e agentes culturais servem às mil maravilhas.

Numa região com grave problema de comunicação, com baixíssimo índice de leitura (está na cauda do País), forte infoexclusão, e com o acesso à informação de proximidade confinado a uma estreita e elitizada faixa da população além de que a mesma informação é diminuta e tardia, a referida mexicanização da política e dos políticos germina como morangos. E se a plantação desta política se amplia e se os seus frutos apetitosos se multiplicam, é inútil falar-se dos valores da Política, da representação e da participação, do escrutínio e do confronto de ideias para o bem comum. A mexicanização do poder que, por definição, leva à formação de um bloco político que, pela eliminação ou neutralização dos adversários, humilhação da crítica e estigmatização do voto, se transforma em única alternativa do mesmo poder, é a negação do que temos entendido como sendo a Democracia. A nível de Estado, por enquanto, tais sinais de mexicanização são obviamente um escândalo; a nível local, os sinais começam por ser despercebidos, vão definindo pouco a pouco as burocracias montadas e quando menos se espera no lugar do homem ou mulher eleita surge a figura do déspota e seus acólitos de carreira. Já temos experiência disto em Portugal.

Creio que o Algarve está entorpecido por esses sinais de doença política que não mora em exclusivo num dado partido, mas é transversal. Todos têm disso. E se me perguntarem qual é o grande inimigo da região, eis a resposta que em consciência dou: É a manha. A mexicanização tem a manha como ponto de partida, manha essa que tardiamente em Lisboa é identificada mas sem consequências – o manhoso já subiu.

Flagrante lógica: Estás na oposição? Então deves defender a regionalização. É um incómodo que acabrá quando chegares ao poder.

Carlos Albino

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