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Mensagem da época

Não há agenda municipal, boletim de freguesia, folheto de entidade ou instituição pública que, nesta época, dispense ou prescinda da “Mensagem de Natal” ou de “Ano Novo”, com simpáticas fotografias dos mensageiros, em pose protocolar e bandeirinhas atrás. O que o Presidente da República ou o Primeiro-Ministro fazem, é assim imitado, pelos presidentes do País até à mais recôndita aldeia. Por regra, estas mensagens não acrescentam nada. Repetem-se de um ano para o outro, como nos antigos sermões em latim. Lá vêm as estafadas referências a que está época é de paz e amor, que é a ocasião para se colocar de lado todas as divergências, que os sinos tocam, que a alegria inunda as praças e ruas, só não dizem que os passarinhos cantam os hinos municipais e dançam a valsa das freguesias, porque nesta época não há muitos passarinhos. Algumas dessas mensagens atingem o cúmulo do ridículo e, sem os seus autores disso se darem conta, acabam por ostentar, por vezes sem pudor, provas de atroz provincianismo que, como observava Pessoa, é a doença mental do português. Digamos que do conjunto destes exercícios natalícios, só se salvam as fotografias dos seus supostos autores, até porque nem sempre que surge como “mensageiro” redigiu a mensagem.

O exercício das mensagens não se esgota, todavia, com o Natal e o Ano Novo. É já um estilo de vida, uma prática política. Há mensagens a propósito de tudo e de nada, ao longo do ano. Esse hábito das mensagens já funciona quase como campanha eleitoral, mesmo que não haja campanha e muito menos eleições. Digamos que esse hábito faz parte do populismo que grassa no País, no qual o Algarve não é exceção. Antes pelo contrário. Entrou agora e aqui em força, quando lá pelo Norte e Centro, as pessoas responsáveis já vão dando conta desse ridículo e de como desgastam a sua imagem, a sua presença e até a sua credibilidade.

É de presumir que alguns não gostarão de ler estas palavras e muito menos de as reler. Mas, em consciência, entendi que deveria redigi-las. Não digo que os responsáveis de aldeia, cidade, conselho, instituição, por aí afora, não digam umas palavrinhas porque têm tribuna para isso. Só que o que é demais não presta e o exercício populista das mensagens, além de matar o mensageiro, é já um estorvo e um incómodo público. Qualquer pessoa minimamente inteligente ri-se dessa presunção e água benta. Mas cada um toma a que quer.

Flagrante lembrete: Tanto um cargo público por nomeação como um mandato ganho pelo voto, não são coisas da propriedade privada de quem os exerce. Certo?

Carlos Albino

 

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1 COMENTÁRIO

  1. DOS DEVOTOS de DESEJOS e PROMESSAS – ESTÁ O MUNDO CHEIO
    Um psicoterapeuta que tem de ir tratar psicopatas depressivos injecta no seu psiquismo asténico, imagens antagónicas, imagens de ascensão, de conquista vertical. E de imediato, todas as estruturas mentais do enfermo são ascensionais, invadindo o campo da consciência, verificando-se um epifenómeno de luz, pureza, domínio, voo, ligeireza, etc. – de igual modo, também a consciência sofre uma verdadeira revitalização moral. A verticalidade (ascensional) é indutora de proezas aeronáuticas ou montanhistas, ou em casos mais domésticos e regionais, de amarinhar paredes, reprodutoras de uma rectidão moral que sempre fica bem demonstrar pelo Natal.
    Do mesmo modo, para reequilibrar os neuropatas que têm tendência a perder o contacto com o real, o psicoterapeuta fá-los-á sonhar, não com a ascensão, mas com a descida à realidade da terra que os envolve, e que cada vez mais se torna evidente chamar-lhes à atenção, de que por enquanto neste universo, o planeta terra é o único conhecido, onde existem condições ideais de vida. Neste momento são cada vez menos as condições, mas elas existem.
    Em alternativa, os psiquiatras existem para tratar casos mais graves de psicoses de aspecto esquizófrénico dos que sofrem fora do contexto, da mania das grandezas e de prometer o céu na terra em qualquer altura do ano.

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