Patriarca sobre os jovens jihadistas. “A juventude é idade propícia a não aderir a nada ou a aderir totalmente a algo”

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O cardeal patriarca de Lisboa lembrou ontem, no Funchal, os perigos que rondam os jovens ocidentais, alguns dos quais abraçaram o jihadismo e combatem na Síria e no Iraque. Numa sociedade onde existe uma “real falta de causas” e onde se oferece apenas “coisas de consumo imediato”, este “tipo de oferta tão primária como faz o jihadismo pode seduzir alguns”, diz ao Expresso Manuel Clemente, à margem do congresso internacional que assinala os 500 anos da Diocese do Funchal.

“A adolescência e a juventude são idades muito propícias a não aderir a nada ou a aderir totalmente a alguma coisa. São idades de definição, de sentido de vida. Se na nossa sociedade, agora falando na Europa, não damos aos adolescentes e aos jovens mais do que coisas de consumo imediato, é natural que alguns deles procurem de outra maneira escoamento para essa disponibilidade para o todo, para o grande rasgo.”

Sem causas capazes de motivar os jovens e a sua disponibilidade para a entrega, é natural, diz Manuel Clemente, que alguns se deixem seduzir “por este tipo de oferta tão primária como faz o jihadismo”. Em sociedades como as europeias, “a real falta de causas para cativar os jovens pode ser perigosa”.

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Há muitos jovens ocidentais, incluindo portugueses, que integram as fileiras do Estado Islâmico – são convertidos ao Islão, radicalizados e depois combatem pelos jihadistas. Estado Islâmico esse que o patriarca de Lisboa define como algo “além das barreiras do admissível” e que urge ser parado.

“É algo que passa as barreiras do admissível e, por isso, como diz o Papa Francisco, tem que ser detido. É absolutamente intolerável – põe em causa os princípios básicos da nossa civilização e o que está expresso na declaração dos direitos do Homem de 1948.”

Apesar de defender uma medidas urgentes por parte da comunidade internacional, Manuel Clemente, que é também professor de História das Civilizações na Universidade Católica, não acredita que se esteja perante um choque de civilizações, embora admita que existem diferenças entre as sociedades ocidentais e os países islâmicos.

“As sociedades ocidentais fizeram um caminho lento, mas que não pode ter recuo, no sentido da cidadania, da responsabilidade individual, da liberdade de cada um. Isso fez com que, mesmo sem se desligar de sentimentos comuns – religiosos ou outros -, se preservasse e, bem, a liberdade e a responsabilidade individual. Nem todas as sociedades fizeram este caminho – há sociedades onde não há muito espaço para o respeito pela liberdade própria e alheia.”
Apesar de ser uma questão a ter em conta, o cardeal lembra que, no Islão, nem todos são radicais, até porque as primeiras vítimas do Estado Islâmico são muçulmanos. “Isto sempre aconteceu. Estamos a falar do Islão, mas podíamos falar de outras religiões. No caso do Islão, e desde o século VII e VIII, houve populações muçulmanas que viveram intensamente a sua crença religiosa e que tiveram contactos pacíficos com outras comunidades, cristãs inclusivamente, mas também sofreram com movimentos radicais de que este agora é um péssimo exemplo.”

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