A alimentação artificial da D. Ana, em Lagos, já mudou a face desta praia, considerada uma das mais belas do país. As obras de requalificação são contestadas pela Almargem, que, depois da ameaça, avançou mesmo com uma queixa à Comissão Europeia, por considerar que a intervenção é “criminosa”. Já o ministro do Ambiente mantém outro ponto de vista e alega que as obras são essenciais para aumentar a segurança dos banhistas. Esta semana, o JA mostra o antes e o depois da praia D. Ana
A rochosa praia D. Ana, em Lagos, é a melhor do mundo para a revista espanhola Condé Nast Traveller. Também é considerada “a mais bonita de Portugal” e a “melhor praia portuguesa” para o TripAdvisor. Mas as fotografias da praia algarvia que surgem nestes sites já não estão atuais, o que poderá alterar a sua classificação nos próximos tempos.
No início deste verão, a praia foi sujeita a obras de alimentação artificial de areia, o que motivou desde logo muitas queixas por parte da população, turistas e ambientalistas.
O descontentamento materializou-se, na passada sexta-feira, numa queixa apresentada em Bruxelas, pela associação Almargem, contra a intervenção em curso na praia D. Ana. A empreitada, orçada em 1,8 milhões de euros, contempla a alimentação artificial com 140 mil metros cúbicos de areia, a construção de um esporão (já concluído) e a consolidação das arribas que apresentam sinais de instabilidade.
Depois de ter anunciado na semana passada que iria enviar uma queixa formal à Comissão Europeia, a Almargem concretizou essa ameaça, na passada sexta-feira, alegando “infração ao direito comunitário” no caso do plano de intervenção efetuado na praia de D. Ana em Lagos.
A Associação Almargem espera que os seus argumentos sejam aceites pela comissão e que esta possa vir “a instaurar um processo contra o Estado português”.
“Aumentar a praia não é solução para o problema”
Depois de o ministro Jorge Moreira da Silva ter defendido a intervenção, argumentando que se trata de repor uma situação existente no passado, a Almargem vem contrariar o governante, adiantando que “basta analisar fotografias antigas da praia, tal como a que enviamos em anexo (anos 60)”, para constatar o contrário.
Além disso, a associação alerta que a ação em curso não vai garantir a segurança das pessoas que frequentam as praias de falésias, frisando que “aumentar a praia não é solução para o problema”.
“O que se observa um pouco por todo o Algarve, mesmo nas praias que foram intervencionadas, demonstra algo de diferente”, referem os ambientalistas. Em alternativa, a Almargem defende a instalação de “vedações dissuasivas simples, de estacas e corda” para delimitar as zonas de risco. “Se bem que esta alternativa possa, em muitos casos, diminuir a área balnear útil, possui a inegável vantagem de manter invioladas as características naturais e paisagísticas existentes, o que não acontece com grande parte das intervenções que incluem uma realimentação artificial das praias, ainda por cima com areias grosseiras e de má qualidade, extraídas do fundo do mar à custa da degradação dos ecossistemas submarinos”, sublinha a associação, acrescentando que este tipo de intervenções são “leves, de fácil execução e de custos modestos”.
“Criminosa intervenção”
A Almargem desmente ainda as declarações do presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que terá afirmado não ser necessário um estudo de impacte ambiental relativamente à obra na praia D. Ana, e congratula-se com o anúncio da intenção da Quercus em retirar o galardão “Qualidade de Ouro” à praia lacobrigense. Ao mesmo tempo, lamenta, a intenção da ABAE em manter a bandeira azul nesta praia, “apesar da criminosa intervenção de que acaba de ser alvo”.
Já o ministro do Ambiente mantém outro ponto de vista sobre a polémica alimentação artificial da praia D. Ana, dizendo que a prioridade é a segurança dos banhistas. “É verdade que esta praia é uma das mais bonitas do mundo – mais pela paisagem do que pela utilização que proporciona. A razão é simples: a erosão costeira e o défice de areia transformaram aquela praia em pouco mais do que uma arriba em cima do mar”, salientou na semana passada Jorge Moreira da Silva, frisando que “os riscos para a segurança das pessoas são notórios”.
“Por ausência de areal, os banhistas colocam-se junto à arriba colocando-se numa situação perigosa. Numa circunstância destas, o que compete ao governo e à autarquia fazer? À custa de tanto querer manter intacta a paisagem, colocar em risco os cidadãos? Ou, como acabou por acontecer, colocar mais areia na praia, regressando, aliás, à dimensão documentada dessa praia nos anos 50 e 60, proporcionando um equilíbrio entre paisagem, proteção ambiental e segurança das pessoas? A nossa opção foi, obviamente, esta”, lê-se no facebook do governante.
Porém, a Almargem insiste que as fotografias dos anos 60 revelam outra realidade e avançaram na sexta-feira com uma queixa formal na Comissão Europeia.
Nuno Couto/JA
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