Está prevista para breve a abertura no Algarve de uma loja IKEA, acoplada a um centro comercial e a um outlet com dezenas de lojas e estabelecimentos de restauração. A área de influência desta gigantesca superfície comercial estende-se a todo o Algarve e ao sul do Alentejo, abrangendo uma população superior a meio milhão de pessoas.
A implantação desta nova superfície comercial não deixará de ter um impacto negativo no comércio local do Algarve e também do sul do Alentejo, que se somará aos múltiplos problemas que este sector tem sentido nos últimos anos resultantes da crise económica e financeira que atingiu o nosso país, de uma política que desvaloriza as micro e pequenas empresas e das erradas opções de sucessivos governos que permitiram o crescimento desenfreado das grandes superfícies comerciais e promoveram a desregulação dos horários comerciais.
Em reuniões que o PCP tem realizado com associação representativas do comércio local/tradicional – como, por exemplo, com a Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve (ACRAL) no passado dia 9 de janeiro – estas manifestam a sua profunda preocupação com a proliferação de grandes superfícies comerciais (mais de 4 milhões de metros quadrados de nova área comercial desde o início dos anos 90 do século passado) e com o impacto devastador que a implantação do IKEA e lojas associadas terá no comércio local do Algarve, com particular incidência nos concelhos de Loulé, Faro, S. Brás de Alportel, Olhão, Tavira e Albufeira.
Há uns anos, quando foram dados os primeiros passos visando possibilitar a abertura de uma loja IKEA no Algarve, o Grupo Parlamentar do PCP questionou o anterior Governo PSD/CDS sobre este assunto, o qual mostrou uma chocante indiferença para com os impactos negativos que as grandes superfícies comerciais têm no comércio local/tradicional. Nada que surpreendesse, vindo de um Governo que impôs uma política de escandaloso favorecimento dos grandes grupos económicos, nacionais e estrangeiros, e de esmagamento das micro e pequenas empresas.
O PCP, não se conformando com a destruição do comércio local e a desertificação dos centros urbanos induzida pelo crescente desequilíbrio entre os formatos tradicionais e a grande distribuição, tem desenvolvido uma ação em defesa da fixação de um quadro legal que assegure o equilíbrio entre os diversos formatos comerciais, bem como um ordenamento do território e um urbanismo comercial que garantam um desenvolvimento económico sustentado e a salvaguarda dos valores ambientais.
No caso concreto do Algarve, face à eminente abertura da gigantesca superfície comercial promovida pelo Grupo IKEA, entende o PCP que é imprescindível a adoção, pelo Governo, de um conjunto alargado de medidas que garantam a defesa e a preservação do comércio local algarvio.
Paulo Sá
*(Deputado do PCP na Assembleia da República)