O ALGARVE NO PARLAMENTO: A subserviência das elites prejudica o Algarve

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Opinião de João Vasconcelos

São diversos os problemas que o Algarve atravessa nos dias de hoje, alguns à semelhança do que acontece um pouco por todo o país. Nos últimos anos uma violenta crise financeira internacional – provocada pela banca corrupta, pelos agiotas especuladores e por uma economia de casino financeirizada – deixou as suas marcas trágicas um pouco por todo o mundo e em que Portugal não foi exceção.

O nosso país – incluindo o Algarve – acabou por ser ainda mais penalizado devido à ditadura da troika estrangeira, cujo Memorando foi assinado por PS, PSD e CDS/PP, o qual foi executado por excesso de zelo pelo governo de Passos e Portas. As consequências foram avassaladoras para as populações, os trabalhadores, as classes médias, para os mais indefesos – desemprego, precariedade, pobreza e exclusão social crescentes, agravamento das suas condições de vida, degradação e destruição de serviços públicos, a desertificação e as assimetrias no interior aumentaram.

No fundo, têm sido as elites as grandes responsáveis pela situação em que nos encontramos. Referiu o Presidente da República nas comemorações do 10 de junho que “as elites têm falhado” enquanto “o povo assume o palpel determinante” e aqui até lhe dou razão. Elites que recebem “prebendas vantajosas, títulos pomposos e altas contemplações deslumbradas” – o que é uma pura realidade.

O Algarve atesta bem o falhanço das elites políticas e económicas que nos têm governado e que continuam a governar. E a principal característica destas elites é a sua total e incondicional subserviência aos interesses financeiros e económicos, nacionais e de cariz internacional. Depois quem sofre são os cidadãos, as suas populações. Em vez de desenvolvimento verifica-se retrocesso, em vez da vida se tornar mais fácil, torna-se mais penosa e com mais sacrifícios.

Vejamos apenas dois casos que se passam no algarve – as portagens na Via do Infante e as prospeções de hidrocarbonetos (petróleo e gás). A imposição de portagens pelo governo PSD/CDS em 2011 representou um erro colossal para a região, que retrocedeu cerca de 20 anos na sua mobilidade. O Algarve perdeu competitividade em relação à vizinha Andaluzia, a crise económica e social agravou-se e uma imensa tragédia humana abateu-se nas suas estradas, em particular na fatídica EN 125. São cerca de 10 mil acidentes de viação por cada ano que passa e uma média anual de 35 vítimas mortais e 160 feridos graves. As obras intermináveis agravaram a sinistralidade: entre 1 de janeiro e 31 de maio passado ocorreram 3.608 acidentes na região, resultando 9 vítimas mortais e 56 feridos graves. E para “adubar o caldo” veio a público notícias que a requalificação da EN 125 apresenta “erros grosseiros”.

As elites que fizeram parte do anterior governo e que fazem parte do atual são as principais responsáveis por toda esta situação insustentável que se vive na região – a principal região turística do país. Ao terem aplicado e continuarem a manter umas portagens criminosas colocam-se numa dependência subserviente perante outras elites de interesses obscuros de uma PPP ruinosa que suga aos contribuintes muitas dezenas de milhões de euros por ano. Que ninguém espere que o Bloco de Esquerda fique calado perante crimes de tamanha envergadura. O Bloco continuará a lutar, dentro e fora da Assembleia da República, pela abolição urgente das portagens no Algarve.

Um outro problema que afeta atualmente o Algarve tem a ver com a pesquisa, com vista à exploração de petróleo e gás no mar e em terra. São contratos e atividades que, se forem em frente, ditarão a ruína e a morte de toda a região, pelas tremendas consequências ambientais e socioeconómicas. A exploração de hidrocarbonetos, incluindo a fraturação hidráulica, provocará danos ambientais irreversíveis, afetará os aquíferos de água potável, irá potenciar os abalos sísmicos e ditará o fim do turismo e da pesca. São cerca de 50 mil empresas e 150 mil trabalhadores que, direta, ou indiretamente vivem do turismo e que estão em perigo. O Bloco de Esquerda continuará a lutar afincadamente, dentro e fora do Parlamento, para anular todos os contratos e impedir todo e qualquer furo para pesquisa e exploração de hidrocarbonetos.

Os governos anteriores vergaram-se aos interesses das petrolíferas por um prato de lentilhas, nada se importando com os interesses das populações e empresas. Muito se estranha que o atual governo – que supostamente devia ter inaugurado um novo ciclo de esperança – continue mudo e quedo perante o clamor e a luta das populações, autarcas e associações, que apenas pretendem que o Algarve fique livre de hidrocarbonetos. Decididamente, a subserviência das elites prejudica o Algarve.

João Vasconcelos

*Deputado do BE na Assembleia da República

 

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