Lesados do Banif: “Quantas mais pessoas precisam de morrer?”

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Cinco dezenas de lesados do caso Banif manifestaram-se esta manhã no Funchal e voltaram a pedir uma solução ao Santander. Os antigos clientes do banco fizeram um minuto de silêncio em memória de um associado, emigrante na Venezuela, que não terá aguentado a pressão de perder poupanças. A associação diz que não baixa os braços e promete uma grande manifestação para o verão, altura das férias dos emigrantes.

“O senhor Mendonça era uma pessoa de idade, ficou muito preocupado com toda esta situação”, lamenta Humberto Gonçalves, um dos clientes que conhecia bem o emigrante falecido na Venezuela. “Não vou dizer que foi por causa do Banif que morreu, mas esta pressão não ajudou. Há muitos lesados que não estão aqui porque a família não deixa. Tivemos um outro senhor que foi internado quando veio à outra manifestação”.

Com menos manifestantes – foram apenas algumas dezenas – do que noutras ações idênticas anteriores, a tónica da iniciativa foi alertar para o desespero dos antigos clientes do Banif, a grande maioria emigrantes, quase todos com idades acima dos 50 anos como Laura Aguiar, umas das senhoras que seguraram a faixa onde se podia ler “Queremos as nossas poupanças”.

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De lágrimas nos olhos, a antiga emigrante na África do Sul lembra os 15 anos de trabalho. “Eu nunca vi o mar, nunca fui à praia na África do Sul para poupar dinheiro e ter uma vida melhor aqui”. Mesmo ao lado, Salomé Costa lamenta uma história semelhante. “Era levantar às quatro da manhã e ir para o negócio, os filhos ficavam em casa. A minha filha tinha sete anos e fazia o pequeno almoço para ela e para o irmão”.

Agora são os filhos que a ajudam, pois de contrário estaria na miséria. “Fui à África do Sul e as pessoas conhecidas disseram-me que eu estava pior do que eles. Eles têm lá o seu negócio, eu não tenho nada”. E os queixosos não vão desistir dessa vida, garante Vicente Ferreira, também emigrante na África do Sul. “Os emigrantes estão a levar o dinheiro de volta. Não se pode confiar em Portugal, é só corrupção. O presidente da Câmara do Funchal foi lá pedir para a gente investir aqui, mas como é que se pode deixar aqui o nosso dinheiro?”

As histórias são semelhantes: muito trabalho, sacrifícios e poupanças perdidas. Ao megafone, assim que termina o minuto de silêncio, Daniel Caires, uma das caras da associação de lesados do Banif, sublinha que estas pessoas não são de pedir subsídios à Segurança Social e interroga-se sobre o que é preciso para o problema ter uma solução. “Quantas mais pessoas precisam de morrer, quantas mais pessoas precisam de ser internadas e quantas mais empresas precisam de fechar para que o Santander resolva o problema?”

Para já, os lesados do Banif vão fazer circular um folheto à porta das agências do Santander, a lembrar que o banco comprou o Banif a preço de saldo e “não quer devolver” as poupanças dos clientes. O folheto está também em inglês para que os turistas estrangeiros saibam o que se está a passar. “Um banco como o Santander, que teve lucros de mil milhões de euros, tem dinheiro para nos pagar”.

Ao todo, os lesados do Banif terão perdido no processo de resolução um total estimado de 500 milhões de euros.

Marta Caires (Rede Expresso)

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