Hollande e Valls cedem a Berlim e Bruxelas sobre o défice

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François Hollande e Manuel Valls prometeram cortes de 50 mil milhões de euros nas despesas

“O PS encornado”. É assim, com esta crua manchete que o jornal da esquerda urbana francesa, “Libération”, apareceu nesta quarta-feira nas bancas. “Cocu” significa “marido enganado” segundo a tradução do Google. “Contrariamente aos compromissos de Hollande e Valls junto das suas tropas, o Governo nem sequer ousou pedir a Bruxelas um relaxamento da regra europeia”, explica o jornal.

O matutino, geralmente bem informado sobre os debates no interior PS francês, acrescenta que os socialistas, dos militantes de base aos parlamentares, estão furiosos e abandonaram o Presidente.

De facto, trata-se de mais uma promessa não cumprida, a primeira do Governo de Manuel Valls, o homem que mais defende o princípio de “falar verdade” como a norma mais sagrada na política. Berlim e Bruxelas terão obrigado Paris a nem sequer apresentar o pedido de abrandamento do ritmo para a diminuição do défice para 3% até 2015.

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Valls e Michel Sapin, seu ministro das Finanças, confirmaram que o objetivo e o calendário imposto pela UE serão respeitados. Acenaram com a promessa da renegociação na semana passada para garantirem os votos favoráveis ao Governo dos parlamentares de esquerda. Dias depois, a seguir a conversações com as autoridades políticas de Berlim e de Bruxelas, recuaram.

A França ameaça cair na confusão e, em pleno, na austeridade porque as dúvidas sobre o cumprimento pelo Governo da doutrina europeia são muitas. As contradições do discurso do poder socialista francês são uma evidência. Com efeito, François Hollande e Manuel Valls, que prometeram cortes de 50 mil milhões de euros nas despesas, foram obrigados, depois da derrocada nas recentes eleições municipais, a anunciar prendas fiscais de cerca de 15 mil milhões de euros às empresas e famílias.

Marine le Pen marca pontos

Esta nova reviravolta do Presidente e do Governo pode ser desastrosa para o PS, onde vários dirigentes, incluindo Claude Bartolone, Presidente da Assembleia Nacional, já nem se dão ao trabalho de esconderem as críticas.

A poucas semanas das eleições para o Parlamento europeu, o partido parece desnorteado. Algumas sondagens, antes da nomeação de Valls, davam o PS em quarto lugar nas europeias, a seguir à direita, à ultradireita e aos ecologistas.

Um estudo, posterior à tomada de posse do novo Governo, indicava que a cota de popularidade de François Hollande junto dos franceses é de apenas 18 por cento, contra 58 por cento para Manuel Valls. Trata-se de um recorde absoluto de impopularidade para um chefe de Estado francês.

Uma sondagem divulgada nesta quarta-feira pelo matutino de direita, Le Fígaro, indica que se fossem realizadas, hoje, eleições presidenciais, Hollande nem sequer se qualificaria para a segunda volta, que seria disputada pelo anterior Presidente, Nicolas Sarkozy, e por Marine le Pen, líder nacionalista e populista.

Agora, com a nova cedência à UE, os socialistas franceses arrancam para a campanha eleitoral das europeias em muito má posição. Hollande também tinha prometido, há dois anos, ser inflexível na luta contra a austeridade na Europa. Depois da sua eleição, recuou a todo o gás.

Quem ganha com as reviravoltas incessantes dos socialistas francesas é sem dúvida Marine le Pen, que esfrega as mãos de contentamento e não se cansa de denunciar “um Governo e um Presidente inteiramente subjugados e às ordens de Berlim e de Bruxelas”.

RE

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