1. Espreitei outro dia as palavras (algumas, as que passaram nas peças dos diferentes noticiários) de Cavaco, o nosso Cavaco de sempre. Falou de políticos, de política e dele, que como todos sabemos não é político, nunca foi político, nem nunca o será. Por acaso e só por acaso, lembrei-me, em cada uma das palavras que ouvi, do doutor Salazar, que também detestava a podre política e a quem os portugueses muito ficaram a dever. Quando chego a esta fase da vida e me falam de alguns políticos, vem-me sempre à ideia aquela anedota, cheia de barbas, do professor que terá perguntado ao aluno, a quem devem os portugueses o pinhal de Leiria?, e que este terá respondido, f… (trata-se de uma escola muito moderna, inclusiva até) senhor professor, não sabia que isso ainda não estava pago!
2. Mansamente (ou não, dependendo tudo dos pontos de vista), já começou a luta entre galos no que respeita à utilização do vídeo árbitro nos jogos de futebol. Desenganem-se os que pensavam que a utilização dos meios audiovisuais ia trazer paz (ou outra palavra com o mesmo peso) ao futebol português. Agora, são os fora de jogo e as grandes penalidades que entram na conversa, mas no futuro, quando estiverem esgotados esses instrumentos de agressão, começarão os problemas com as faltas a meio campo que deram golos e, em geral, todas as merdices que podem conduzir a uma discussão sem fim. Antes as coisas funcionavam com um árbitro e dois fiscais de linha. Hoje, os fiscais de linha já não se chamam assim, fazem o mesmo mas são assistentes ou coisas que os valha. Há mais um quarto árbitro e, com o vídeo árbitro, estão mais dois (ou um?, ou três?) a ver o jogo de fora. Um destes dias vão ser mais a arbitrar que a jogar, mas parece que ninguém está muito interessado nessas minudências. Tudo em nome da transparência. Por estranho que pareça, hoje, estamos como muito mais transparência, mas nunca se discutiu tanto por tudo e, principalmente por nada; além de que o futebol está cada vez mais longe de ser uma actividade humana. Sei que outras modalidades como o râguebi, usam há muito a televisão como tira teimas. Mas o futebol sempre tirou partido de ser mais simples, além de que será sempre muito dependente do critério do árbitro. Fazê-lo completamente preto no branco não trará nada de bom, sabendo no entanto, que hoje, esta é uma posição impopular. Ninguém ouse pensar que este caminho não é o melhor, e às tantas terá razão; pode ser que tudo acalme e que acabemos no melhor dos mundos. Mas pressinto que o próximo passo será dado pela Google que aperfeiçoando um árbitro virtual, montado num drone, contribuirá para a despedida dos árbitros. Teremos, nessa altura, dado mais um passo rumo à absoluta artificialização da actividade em causa. Ora, nesse momento, meus amigos, aquilo que se vai jogar, chamando-se futebol, na realidade será outra coisa completamente diferente. E pior.
Fernando Proença