AVARIAS: Festivais

Em relação à TV (questão, que em princípio me traz a estas lides) tenho visto umas coisas por outras. Escrevo num Domingo à tarde e vou vendo que durante a noite a RTP1 vai transmitir o Festival da Canção. Vai ser a primeira semi–final (?) e vai contar com nomes de artistas mais ou menos consagrados (pareceu-me ter visto o nome de Samuel Úria como compositor); não pela medida dos padrões da normalidade mas por padrões mais ou menos alternativos. Alternativos, se fizermos fé naquela conversa da Antena 3 ser a estação da música alternativa. Como gosto de Samuel Úria, pode ser que dê um vista pelo que se vai passar. As nossas canções (anos 60 e 70. A partir dos anos 90, eram quase exclusivamente feitas à base de merda. A merda pode ser muito valorizada, anos depois) eram em geral bonitas e bem feitas, só que não adaptadas à pedalada do gosto do público e dos júris da restante Europa. Lembro que os citados júris se tinham formado a partir de um caldo de foleirice e pirosismo, capazes de afastar a melhor música das boas classificações. Por isso as representações dos espanhóis logravam ser, quase sempre, classificadas nos três primeiros lugares. Ou para tal contribuiria somente a influência das empresas discográficas? No entanto sempre existiram temas que resistiram ao tempo, alguns via qualidade, outros consequência da capacidade que todos temos de recuperar músicas (e filmes) que no seu tempo (justa ou injustamente) não valorizámos. Foi o caso dos Abba que muito certeiramente foram relegados (na altura) para o limbo da chamada canção ligeira de baixa qualidade e que, desde há vinte anos a esta parte, foram alcandorados em arautos da melodia. Talvez tudo se deve à perda da qualidade geral da música pop, ou então à crónica falta de água nas barragens portuguesas. Houve então uma altura em que o dito festival da Eurovisão (penso que era assim que se chamava), ditava uma parte da música ligeira. Hoje não dita nada, mas é muito valorizado nos países que saíram do bloco soviético, que juntamente aos da ex-Jugoslávia, ainda lá investem. Devem existir razões que explicam essa crescente ligação, mas eu não as descortino. Desconfio no entanto que a explicação está relacionada com o amor a uma certa ruralidade que continua a unir toda essa gente que nutre um verdadeiro amor por prados, cavalos e nos específicos casos em questão, uma ou outra pequena guerra, só para saber quem é mais forte. Outro dia vendo imagens (reais) da Rússia enquanto União Soviética, perguntei-me como é que um povo vivendo daquela forma, tosca e involuntariamente frugal competiu com os americanos na corrida ao espaço. Pois são os descendentes desta malta (mais os que convivem na mesma área geográfica e política) que levam as rédeas do Eurofestival. Este, que já passou por variadíssimas metamorfoses e conta, pelo menos, com duas divisões, continua, e a última vez que o espreitei, assustei-me, com a assistência aos gritos a empunhar bandeirinhas numa dança encenada para parecer qualquer coisa que não é. Enquanto escrevo o final deste texto começo a ver a versão portuguesa com José Carlos Malato e Sónia Araújo mais um júri grande como o caraças, tentando colar esta edição às históricas, cheios de palavreadao. Pelo que me foi dado ver e ouvir, não há, em geral, motivos para o relambório de elogios (músicos excelentes, vozes magníficas etc) com que foram brindados cantores e compositores. Mas já vi coisas piores.

Fernando Proença

 

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