AVARIAS: Com artigos destes já cheira a verão

Opinião de Fernando Proença

1. Meus amigos e minhas amigas, ou em versão politicamente correcta, minhas amigas e meus amigos: aproximamo-nos da altura ideal para fazer recuar o Acordo Ortográfico (AO). Parece que o Presidente da República dos Afectos é pela revisão; aproveitemos a embalagem. Há-de haver (sou um destruidor de formas verbais) uma altura em que as questões do PIB e dos maus e muito maus bancos, nos darão um respiro, como dizem os espanhóis. E esse será o melhor momento para começarmos a destruir os alicerces da pior ideia que os gajos da gramática tiveram, desde há muitos e muitos anos: a de destruir paulatina e continuadamente a língua portuguesa, através de um acordo que ninguém acorda, por via da falta das respectivas assinaturas. Por acaso ainda estou para saber qual dos dois é pior, se a ascensão do politicamente correcto no falar de todos os dias, se o AO, mas temo que este último será um problema maior. Está na lei e obriga, só para lhes dar um exemplo, os portugueses que por agora estão na escola, o que nos termos de economia de escala funciona como se um milhão de pessoas, entre as quais algumas nossas vizinhas, fossem obrigadas a andar todos os dias com camisolas amarelas. Digo eu, que não gosto de amarelo. Pois na TV, o AO através da legendagem já fez muitas vítimas. O pára e o para obrigam-me sempre a voltar para trás para entender a frase. O “falamos” para o passado em vez do correcto “falámos”, só me lembra as casas clandestinas que foram legalizadas porque não se podia pura e simplesmente destrui-las. Como os bimbos pronunciavam mal a palavra, o remédio encontrado foi obrigar toda a gente a escrever mal como eles. Também já referi neste espaço a estranheza que senti depois de ler a palavra espetador, num daqueles rodapés dos espaços noticiosos. Nessa altura pensei para o meu fecho éclair; que raio é um espetador? Um cozinheiro que faz espetadas? Mas não senhor, a pessoa em causa, descobri mais à frente, era um espectador. Uma pessoa que assistia a um espectáculo. Num jornal diário li a palavra “cato”. Seja o que for parece-me resultar da mistura das palavras gato e cacto. Etc.etc. Moral da história: amigos meus que não se revêem no AO, assinem petições, façam qualquer coisa, porque como se costuma dizer, enquanto há língua há esperança.

2. Passava ou ainda passa uma publicidade de uma determinada marca de automóveis em que o pai deixa ao filho uma prenda sob a forma de uma bicicleta a pedal, saída de um automóvel. O rapazola, perante as duas possibilidades de prenda só lhe passa pela cabeça que os papás lhe tenham oferecido o carro. Sai com ele, enquanto os otários dos velhotes, se mostram espantados, mas não muito, digo eu! É um filme cruel e um espelho dos tempos que correm. Para uma certa classe média (mesmo com a subida ao poder da crise económica), nada detém os pais na satisfação de todas as exigências dos petizes, que hoje pode subir aos trinta anos de idade ou até mais um bocadinho. O filme inscreve-se à cabeça no que se pode designar por “publicidade inteligente”. Um pouco amoral é certo. Mas um amoralidade que deve ser lida pela positiva. Pode ser que a malta vá percebendo por onde anda.

Fernando Proença

 

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