AVARIAS

Linhas de verão

Escrevo durante a tarde de Domingo. Do ponto de vista da televisão os domingos são um autêntico deserto, isto se a ideia de deserto lhes for completamente desagradável. Para quem não gosta de florestas tropicais então poderia dizer-se que as tardes de Domingo são autênticas florestas tropicais. Num dos canais da estepe semidesértica (para quem não gosta de estepes semidesérticas) que são – como referi – o grosso do nosso regime dominical, espreito o SIC Mulher. Em geral, a programação oscila entre decoração de interiores e programas de cozinha. Não me atirem (ainda) pedras. Também já lá vi séries, mas em média são absolutamente amenas. Como se o público feminino não suportasse mais nada que, curtas divagações sobre os diferentes rearranjos amorosos entre colegas de escritório e famílias funcionais que por mero acaso e um galo do caraças, de momento não o são. Já vi programas de debate mas giram todos à volta de dois problemas essenciais, a saber: porque razão a festa a que fui convidada não tinha o rácio mínimo de pessoas bonitas?, e existe casamento para além do adultério?

Não tenho ideias preconcebidas sobre (quase) nada e muito menos sobre o SIC Mulher, embora a própria existência de um canal de género me irrite. Como se por um acaso do destino fosse criado se um SIC Homem. Este, punha a cabecinha de fora só o tempo suficiente para ser – justamente – arrasado e vilipendiado pelas feministas de serviço. Seriam programas sobre cervejas? Sim/Talvez; sobre quais os tipos de copo para se beber vinho num almoço de cerimónia? Ou um produto desses teria mais razão de ser no SIC Mulher? Seriam os homens presenteados com documentários sobre “As Concentrações de Motas em Portugal, no período 1998 – 2014?”. Ou um documentário desses teria mais cabimento (ao lado do filme Woodstock) num canal sobre hippies e new age, chamado SIC Naboa?

Estou a escrever na ressaca de mais uma – verdadeira, não a das bicicletas – volta a Portugal, para assistir a uma noite do festival de Paredes de Coura e comer bem. Sobre a música escreverei noutro espaço. Hoje, gostava de lhes chamar a atenção para um facto que muito me intrigou ao longo das estradas (mais no Norte, que lá a natureza é mais exuberante), que percorri neste nosso pequeno e doce cantinho: por que porra é que uma quantidade enorme de indicações nas rotundas e cruzamentos das diferentes estradas ficam, exactamente por detrás de uma ramada enorme de uma árvore ou arbusto? Precisando um cidadão de parar o veículo automóvel em que desloca, para espreitar a seta e o nome da localidade pretendida? Teriam colocado primeiro a chapa e só depois a árvore? Quem terá sido esse prodígio? Pelo contrário, estaria lá a árvore e alguém que acreditou tratar-se de um bonsai, não terá hesitado em pespegar a chapa atrás? Ou, terceira hipótese, teriam chapa e árvore sido postas na mesma altura e depois falhado a manutenção? Suponho que andam fiados de que todos os automóveis já estão equipados com GPS, dispensando um pobre português os benefícios da sinalização estática. Acho mal.

Fernando Proença

 

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1 COMENTÁRIO

  1. Televisão, processo de estupidificação! Sedação, morte lenta. Ao contrário, os nossos neurónios não morrem. Se soubermos como, rejuvenescem: somente morrem depois da morte física. E esta é uma verdade inescamoteável explicada pela neurologia.
    E eu gosto muito viver a pleno sem sedações! Os melhores programas são criados a partir da minha saudável imaginação, e menos a que os outros me querem impor.
    Há tanto livro para viver… e escrever!
    Requiem por “Pátio das Letras” (mais uma que se finou)
    Carpe diem

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