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Hoje estou chateado mas não lhes digo porquê

Já estamos em época de repetições: filmes, séries e em geral, tudo o que possa ser gravado e passado mais tarde, que é como se sabe tudo. Hoje, dia em que escrevo, seis de Abril do ano da graça de dois mil e catorze, já corri uma data de canais e o que passa, passa em terceira ou quarta mão (para não dizer mais). A quantidade de séries em caixa é tanta que todos podemos ver uma reposição como se se tratasse de material novo. Séries inteiras que perdemos, que esquecemos etc. Há sempre a hipótese de se gravar ou piratear (qualidade que não possuo) mas isso é só para gente que não quer fazer mais nada e tem o seu lugar no sofá da sala com o feitio do rabo, de tanto se sentar. Eu, que procuro levar Portugal para a frente agora que ele está á beira do precipício, não gasto gravações. O que se vê, vê-se. O que não se vê, ou vê-se na próxima reposição, ou azar, fica para a semana dos nove dias. Comparo os que não perdem pitada da sua série favorita, deixando a gravar religiosamente o que quer que seja, aos que se sentam num restaurante e a primeira coisa que fazem é pôr o telemóvel em cima da mesa. Ou que passam a vida a telefonar quando estão na praia. Ou que não podem perder pitada do mail, ou de uma das varia-díssimas redes sociais a que aderem com medo de perder o momento. Não um momento qualquer, igual a tantos outros mas o momento, crucial para as suas vidas. Inigualável, imprescindível, marcante, em que uma amiga coloca um post no Facebook no qual se lê, por baixo de uma fotografia em tons pastel, com um dedo a indicar o caminho das pedras: a tua inteligência é como um corcel em debandada de um qualquer lugar para o maior pôr do sol, que é afinal um e todos. E uma frase destas meus amigos tem logo de ter ali um gosto. Ou um gosto ou a vida.

Vi o início do Só visto e reparando que havia uma entrevista com David Carreira, ali me deixei ficar durante uns minutos. Quando os músicos portugueses dizem que a RTP não tem uma política para a nossa música, não é difícil que seja em momentos destes que estão a pensar. Relegando para a RTP2 qualquer vestígio de inteligência em forma de música (e nas restantes manifestações artísticas de uma forma muito abrangente), guarda para o primeiro canal estas charlas. As entrevistas do Só Visto, servem em geral, para nos lembrar quão longe na evolução foram pessoas como eu e você, que possuímos – no entanto – apenas uma inteligência mediana. O rapaz Carreira lá foi respondendo ao que lhe perguntava a simpática Sílvia Alberto e tudo somado, fiquei com a impressão que dentro da família, terá sido o que mostrava ideias ligeiramente excêntricas. Mas cedo o pai lhe mostrou com quantos paus se faz uma canoa. Ensinou-lhe que não se apanham moscas com vinagre e destinou-lhe uma carreira (piada fácil) desenhada para um público alvo que cobre, o que ele e o irmão não fazem. Descobri ainda que existe uma irmã mais nova e não tenho dúvida que se dedicará, quer queira quer não à música. No espectro da família, só falta mesmo o R&B, à portuguesa. A Beyoncé que se cuide.

Fernando Proença

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1 COMENTÁRIO

  1. Televisão generalista portuguesa – um hábito desnecessário…
    E atroz, causador de depressões, a que o Dr. Assis tem muita necessidade de evidenciar e de se preocupar, como mais um sério concorrente (para além das facadas no orçamento nas algibeiras do zé pagode), ao desenvolvimento da patologia.
    A ver se o Dr. Assis, em uma das suas próximas sessões de esclarecimento, alerta para o perigo a que uma boa maioria dos portugueses estão sujeitos, ao verem continuadamente as televisões lixo generalistas portuguesas.

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