Carta a um amigo ausente

Construímos uma amizade, forte, sólida, desprendida, verdadeira, entre conversas banais, trabalho, defesa de pontos de vista e convívios familiares de muita proximidade.


As gargalhadas, os brindes, a alegria nunca reclamaram por menos respeito.


Ouvi algumas opiniões distorcidas a teu respeito, conhecia-las, conhecias-te, conhecias a natureza humana, e não manifestavas grande melindre, expressão de grande compreensão e tolerância.


Partilhámos o mesmo estatuto de professores, nunca nos cruzámos na mesma escola, mas o modo como geravas interesse e afeto nos miúdos leva-me a adivinhar que cumpriste com o estatuto, foste um bom professor.


Agarraste no Jornal do Algarve, “ grande farol da imprensa regional” na expressão de Fátima Murta, ainda nos conturbados anos pós Abril e garantiste a sua independência, o seu contributo pela afirmação e desenvolvimento do Algarve, trincheiras onde sempre militaste, como ontem em momento tão doloroso, a tua Luísa bem lembrava.


Foste por mim convidado de Castro Marim para visitares a bela capital mundial do sal tradicional – Guérand, e levaste o sal e a flor de sal de Castro Marim à Alemanha, ao Canadá à Austrália, ao mundo, tornando-te um dos maiores, senão o maior, embaixador do sal tradicional do Algarve.


Numa expressão grande do teu sentido empresarial, amor pelo Algarve e humanismo empresarial com dimensão sentida nas lágrimas do Flávio e da Maria Armanda, colaboradores de quem sempre me falaste com tanta ternura e amizade.


Eras um homem simples de gostos requintados e justo, amigo incondicional dos teus amigos, tinhas muitos no coração. Nunca esquecerei o modo saudoso mas sempre feliz como recordavas, esse outro grande algarvio, de quem também tive a felicidade de ser amigo: o António Manuel Rosa Mendes.


Amar a família como tu amaste a tua, não é capacidade que muitos sejam capazes de expressar como tu soubeste expressar, sei como estão sofrendo e o vazio em que entraram. Deixo-vos, Luísa, Susana, Marta, Ruben, Filomena, D. Lolita e todos os outros que não nomeio, um abraço muito sentido de quem partilha os vossos sentimentos.


Fernando, nunca te perguntei se gostavas, despeço-me com Mário de Sá Carneiro — “Fim”.


Um abraço amigo, obrigado por tudo o que nos deste.

Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!
Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza…
A um morto nada se recusa,
Eu quero por força ir de burro.”

José Estevens

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