FMI: “Adiamento agrava custos da crise”

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Opinião é de Simon Johnson, ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional, que diz que o “fator embaraço” impede Portugal de pedir ajuda.

Simon Johnson, professor de Economia da escola de gestão do Massachussetts Institute of Technology, defende que Portugal deve recorrer já ao FMI, porque aumentos de impostos e cortes de despesa só elevaram os custos da crise para a Grécia e Irlanda.

“Portugal precisa de olhar para todas as opções e uma que não é tão difícil como as pessoas supõem é ter assistência da comunidade internacional. E se quiser financiamento da União Europeia, vão pedir para envolver FMI”, disse Simon Johnson em entrevista à Lusa em Washington.

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“É muito difícil satisfazer os mercados, como os gregos e irlandeses descobriram, com uns cortes de despesa aqui, aumentos de impostos ali e mais uns cortes de despesa. É assim que se torna esta crise mais custosa, em vez de a atacar de frente”, adiantou o norte-americano de origem britânica, ex-economista chefe do Fundo Monetário Internacional.

Recurso ao FMI visto como inevitável

Outra interveniente numa conferência do Comité de Bretton Woods sobre os riscos de contágio da crise europeia, na quinta feira em Washington, a economista norte-americana Carmen Reinhart considerou inevitável que Portugal venha a recorrer ao FMI.

A economista do Instituto de Economia Internacional Peterson e colaboradora frequente de Ken Rogoff, disse mesmo que abril será um mês particularmente difícil para a gestão da dívida portuguesa, dada a grande quantidade de dívidas a vencer.

Para Simon Johnson, o pedido de ajuda de Lisboa não é “inevitável, mas crescentemente provável” e pode ser uma ajuda positiva “se lidado apropriadamente”.

Quando se está sob pressão dos mercados financeiros “e se precisa de ajuda é melhor ter essa ajuda mais cedo e em melhores termos do que esperar até as coisas ficarem demasiado difíceis”, afirma Simon Johnson, membro do painel de conselheiros económicos do gabinete orçamental do Congresso norte-americano.

O economista vem defendendo há meses o recurso de Portugal ao FMI, tal como já tinha feito em relação à Grécia e Irlanda.

“E continuo a creditar que se tivessem ido antes teriam tido melhores condições e toda a crise teria sido menos custosa para os gregos e irlandeses”, adiantou.

“Fator embaraço”

Para Johnson, o “fator embaraço” é o que previne atualmente as autoridades portuguesas de pedirem ajuda, até porque pode estar em causa a queda do Governo, como aconteceu na Irlanda.

“Não sei quem seria culpado pelos eleitores [no caso português], mas há uma relutância compreensível em muitos países”, adiantou.

O economista defende que a parceria entre FMI e União Europeia tem sido “muito mais construtiva na Europa” do que noutros cenários no passado, e considera mesmo inviável que um pacote de ajuda seja oferecido sem o envolvimento da instituição financeira.

“Percebo a lógica [de ajuda sem o FMI] e é exatamente isso que gregos tentaram conseguir, o que os europeus tentaram organizar a dada altura para os gregos, mas os europeus não têm esse enquadramento e experiência para lidar com estas situações”, diz o economista.

“No cenário grego e também no irlandês fez mais sentido o FMI, que vem como complemento à UE, que ajuda em muitas maneiras. Não é o mesmo que as situações muito difíceis que muitos mercados emergentes enfrentam sozinhos com FMI”, adianta.

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