Cacela Velha: Destruição da duna primária está a assorear a Ria Formosa

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Situação já é denunciada há vários anos e tem vindo a piorar. Pescadores, mariscadores e quem vive da atividade marítimo turística estão a ver as suas atividades em risco. Há também quem defenda que a situação está a prejudicar a sobrevivência do interior da Ria em termos ambientais. Ministério do Ambiente não prevê a realização de qualquer intervenção

DOMINGOS VIEGAS

Há vários anos que a Associação de Defesa, Reabilitação, Investigação do Património Natural e Cultural de Cacela (ADRIP), mariscadores, operadores marítimo-turísticos, PCP e cidadãos locais alertam para a necessidade de uma intervenção urgente para reposição do cordão dunar, bem como para o desassoreamento da barra e dos canais de navegação na zona de Cacela Velha e Fábrica, na Ria Formosa.

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Porém, o Ministério do Ambiente continua a dizer que não prevê a realização daqueles trabalhos, pelo menos, para já, mesmo com os alertas do risco que está a correr aquele património natural e da situação estar já a começar a inviabilizar as atividades económicas de pesca, produção de bivalves e marítimo-turísticas.

Em 2014, já lá vão mais de três anos, a ADRIP, depois várias tentativas para resolver a situação, voltou a alertar a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para o que, já naquela altura, considerava como “situação de catástrofe ambiental que se verifica na Ria Formosa, em Cacela Velha”.

Além da “total destruição da duna primaria”, que “põe em causa a continuidade da Ria bem como todo o seu património natural e cultural”, a ADRIP reforçava a “difícil luta diária pela sobrevivência dos proprietários de viveiros que ai desenvolvem a sua atividade pela manutenção dos seus espaços em plena produção”, já que os galgamentos oceânicos estavam a levar as areias para o interior da ria. A ADRIP considerava ainda que a abertura da nova barra, que tinha sido realizada anos antes, “não aportou nada de bom para o quilíbrio ambiental da ria”.

No mesmo ano, o PCP questionou o Governo (na altura PSD/CDS) sobre esta situação e se estava prevista a realização de dragagens, mas acabaria por ficar sem resposta. Entretanto, a situação foi-se degradando cada vez mais.

Justino Correia, que no final do ano passado encabeçou mais uma iniciativa para alertar as autoridades, considerou, em declarações ao Jornal do Algarve, que aquela zona “está completamente perdida e ao abandono, com pleno conhecimento dos governantes e das entidades com responsabilidades”.

“Nós, cidadão, e a associação ADRIP, somos os que andamos a lutar e tentar mover esforços, no entanto, ao longo dos anos nada tem sido feito”, lamentou.
O PCP voltou a questionar o Governo, no passado mês de dezembro, e na última semana chegou a resposta: “Decorrem atualmente dragagens e reforço de cordão dunar no âmbito das intervenções da Sociedade Polis Ria Formosa, não estando no entanto prevista (seja por esta sociedade, seja pela Agência Portuguesa do Ambiente) qualquer intervenção na área da Fábrica/Cacela”.

“Fenómeno natural”, diz Ministério do Ambiente

O Ministério do Ambiente recordou que foram efetuados trabalhos de dragagem e de recuperação do cordão dunar, em 1999, e que em 2010 foi aberta uma barra na zona nascente da península de Cacela “visando abrir um canal de ligação à barra do Lacém e, assim, melhorar a circulação da água”. E explicou ainda que se trata de “um fenómeno natural” e que uma nova intervenção naquele local requer “a ponderação entre os seus custos e benefícios”.

Para os que defendem uma intervenção urgente, os trabalhos realizados em 2010 foram “o maior erro alguma vez cometido em termos de reabilitação, conservação e preservação”, já que “foi pensado somente no imediato, esquecendo-se todas as implicações e consequências a médio prazo, e os resultados estão à vista de todos, a Ria completamente assoreada e toda a vida marinha exterminada”, considera Justino Correia.

Quem vive, economicamente, da Ria Formosa na zona de Cacela Velha e quem defende, em termos ambientais, o valor natural daquele espaço, considera que os custos de uma nova intervenção, mas acertada, são muito pequenos, a longo prazo, comparados com os benefícios que serão recolhidos para as gerações vindouras.

(Reportagem publicada na edição impressa e semanal do Jornal do Algarve de 15/02/2018)

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