Bruno Maliji estreia-se nos álbuns com “Acrustico”

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“Acrustico”, o primeiro álbum de originais do cantor e compositor algarvio, foi lançado no passado dia 13 de janeiro

Bruno Maliji tem 39 anos e nasceu em Albufeira. Depois de vários anos a tocar no circuito de bares e hotéis, o músico acaba de lançar o seu primeiro trabalho de originais. “Acrustico” tem canções escritas em português, acompanhadas apenas pela guitarra, que passeiam entre a crítica social, mensagens de perseverança, força e querer, assim como de homenagem e amor disfarçadas por outras palavras. E até os incêndios mortais do último verão e a ameaça do petróleo que paira sobre o Algarve estão presentes neste disco de estreia, com o qual, como disse ao JA, pretende “tocar” as pessoas

 

NUNO COUTO

 

Jornal do Algarve – Como começou a tua história com a música e porque decidiste ser músico?
Bruno Maliji – Foi no final de 1995, em Albufeira, de onde sou natural. Tinha 17 anos quando, num belo dia, no local de trabalho, em conversa com três colegas, um deles disse de repente: “Olha, vamos fazer uma banda! E tu, Bruno, vais para a bateria!”. E eu nem pestanejei… Nesse mesmo dia fui comprar uma bateria, pagando em prestações com o curto salário que ganhava na altura. Arranjámos uma sala para ensaiar e, pronto, estava feita a banda. Foi uma “pancada” daquelas fortes mas que mudou a minha vida. A partir daí, o bichinho da música pegou e mesmo ao longo destes anos, tendo outras profissões, o sonho de ser músico profissional esteve sempre presente no meu foco. Mas só há dois ou três anos, quando agarrei no microfone e na guitarra, é que consegui dedicar-me à música a 100%, pois sendo apenas baterista o caminho seria mais duro.

J.A – E como surgiu o teu nome artístico?
B.M. – “Maliji” é mais do que um nome artístico, aliás, surgiu sem esse propósito. Trata-se da junção dos nomes de duas ilhas: as ilhas Malibu e as ilhas Fiji, criando assim “Maliji”, a minha própria ilha onde vivo para ser feliz, fazendo o que gosto e com quem amo.

J.A. – O lançamento deste teu primeiro trabalho de originais é o ponto alto da tua carreira até ao momento?
B.M. – Sem dúvida, com o lançamento do álbum e também com uma certa independência musical que vim adquirindo nesta fase e que me tem feito evoluir como músico e como pessoa. Claro que não posso esquecer-me de outros momentos, como ter feito parte de um projeto de homenagem aos poetas algarvios, musicalizando os seus poemas e através do qual chegámos a tocar numa galeria de arte em Oeiras. Outra atuação marcante foi tocar na loja Fnac da Guia. Foi a primeira apresentação de temas originais, a maioria escritos por mim. É uma sensação muito boa ver as pessoas a aplaudir o nosso trabalho.

J.A. – Quando surgiu a ideia de gravar o primeiro álbum de originais?
B.M. – A ideia de gravar um disco de originais não vem de agora. Quando estava na minha antiga banda, os “Terminal16”, e após a atuação na loja Fnac, senti que tínhamos material para fazer alguma coisa interessante, mas como os restantes elementos da banda não olhavam para a música da mesma maneira que eu, a coisa acabou por “morrer”. Mais recentemente, quando saltei da bateria, vi aqui uma oportunidade de ser eu o “homem do leme” e vi que seria possível realizar este sonho… Então, foi altura de meter mãos à obra.

J.A. – Escreves as letras, compões, tocas guitarra e cantas no disco… O que queres expressar através deste trabalho?
B.M. – Este trabalho é muito “eu”, tanto na forma como escrevo como no processo de criação do mesmo. Tenho canções que são homenagens a pessoas que são muito importantes para mim, outras de crítica social onde expresso o que sinto em relação a alguns temas, e tenho também temas de força, de querer, de lutar por algo, de não desistir sem dar luta. Talvez esta seja uma mensagem que quero passar às pessoas.

J.A. – De onde veio a ideia de dar o nome “Acrustico” a este primeiro projeto?
B.M. – Confesso que inicialmente idealizei o meu primeiro trabalho gravado noutro registo. Inicialmente, queria gravar com banda e no estilo que pretendo, que é o rock, mas na altura seria difícil realizar esse trabalho. Então, houve uma noite que fui ver o concerto de um músico de Faro, o Mauro Amaral, que estava a apresentar o seu trabalho de originais. O concerto era só ele com a sua guitarra acústica e, quando saí do concerto a caminho de casa, fui pensando: “Então e se eu gravasse um disco em acústico? Só voz e guitarra… tudo a cru?!”. Logo aí surgiu o nome “Acrustico”. O conceito seria esse mesmo, apresentar as minhas canções cruas em formato acústico, desta forma seria mais fácil para mim poder tocar ao vivo e fazer chegar a minha música a mais pessoas, até porque o formato acústico é mais “aceite” pela maioria das pessoas. Mas claro que é também por gosto pessoal, já que este formato diz-me muito e dá a conhecer melhor a canção na sua essência.

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Bruno Azevedo nasceu em Albufeira há 39 anos e atualmente vive em Loulé. Apresenta-se em palco como Bruno Maliji

J.A. – Quais os momentos e como nascem as tuas composições?
B.M. – Para mim não há nenhum método ou fórmula para compor uma canção, tudo depende da inspiração no momento. Em algumas, a parte musical já estava pronta, noutras, a letra já tinha sido escrita. Mas posso dizer que, por vezes, a tristeza pode ser uma boa ajuda a compor. Por exemplo, o tema “Cinzeiro.pt” não era para fazer parte do disco, mas surgiu no ano passado, quando estava de guitarra nas mãos a assistir às noticias sobre os incêndios que devastaram metade do país. Aquilo tocou-me de tal forma que logo ali as palavras soltaram-se num grito de revolta.

J.A. – Quais as maiores influências musicais na realização deste primeiro trabalho de originais?
B.M. – Tenho vários artistas que me têm inspirado ao longo destes anos, como os Xutos & Pontapés, pela sua bonita história e pelas suas canções. Admiro muito compositores como o Jorge Palma e o Sérgio Godinho. Mas, para este álbum, talvez os Resistência também me tenham inspirado, por se tratar de uma banda que toca em acústico e pela forma como eles dão vida às canções por vezes esquecidas ou não tão conhecidas.

J.A. – O Algarve está de alguma forma presente na tua música? Como vês as transformações que a região tem sofrido nos últimos tempos?
B.M. – Na música “Aqui bem a sul” o Algarve está 100% presente. É uma canção que serve de cartão de visita, mas com um toque de crítica social, principalmente quando falo na possível vinda do petróleo que na minha opinião (e de muitos) é uma terrível ameaça para todos. Nestes últimos tempos vejo o Algarve um pouco esquecido, por vezes dá-me a sensação que só existimos no verão e nos finais do ano, o que é triste.

J.A. – Os músicos da região têm boas oportunidades para se mostrarem ao público?
B.M. – No que toca à apresentação de trabalhos de originais, infelizmente não há tantas oportunidades assim, há poucas salas que apostam neste tipo de espetáculos. Um músico para trabalhar tem quase obrigatoriamente de passar pelo circuito de bares, hotéis e afins, tocando reportório de “covers”, o que até não é mau, pois acaba por dar muita experiência de palco e até pode ajudar nas próprias composições. No verão, com os festivais, vão surgindo algumas oportunidades, há organizações e autarquias que vão apostando nos músicos locais, mas ainda são poucas. Mas isso também não pode servir de desculpa e há que batalhar pelas oportunidades e agarrá-las quando elas surgirem.

J.A. – És músico desde 1996 . Como vês a evolução da música portuguesa desde essa altura?
B.M. – Eu costumo dizer que daqui a uns 40 ou 50 anos vamos continuar a ouvir Xutos, Rui Veloso, Zeca Afonso, AC/DC, Led Zeppelin, etc., como ouvimos hoje, e que poucos artistas atuais vão ser lembrados nessa altura. Vivemos uma fase (em todo o mundo) em que a música passou a ser um produto de “comer e deitar fora”, em que em muitos dos casos parece que se perdeu o brio em escrever canções. Mas isso não significa que não existam artistas de valor e com muito talento, até pelo contrário, só que há uma indústria por trás disto tudo que ultrapassa os próprios artistas. Felizmente, nos últimos anos, temos visto uma aposta grande na música escrita em português e isso deixa-me satisfeito.

J.A. – Depois do lançamento do álbum “Acrustico”, em janeiro deste ano, o que esperas das reações do público e quais as tuas expectativas?
B.M. – Já tenho algumas datas e locais confirmados e outros ainda por confirmar. No próximo dia 21 de abril, por exemplo, vou estar na Casa da Cultura de Loulé. Posso também adiantar que está prevista a minha atuação no Festival Med deste ano, no Palco do Arco, e também está prevista uma data, ainda por confirmar, em Portimão. Nestes concertos do “Acrustico” irei apresentar não só os temas do álbum, como outras canções originais que não entraram no mesmo. Não gosto de criar grandes expetativas, sou muito “pé no chão”, mas espero conseguir de certa forma “tocar” nas pessoas e que, de uma maneira ou de outra, elas se identifiquem nas minhas canções.

J.A. – O que tens mais planeado para o resto de 2018? Quais são as tuas ambições?
B.M. – Neste momento, ainda há muito para fazer em relação ao álbum. Há que correr atrás e agarrar todas as oportunidades que surjam para o divulgar, seja ao vivo ou pela comunicação social. Está previsto também o lançamento do segundo single em vídeo. A par disto, não posso esquecer o trabalho que tenho no circuito de bares e hotéis do Algarve, que, de certa forma, pode ser importante na divulgação do “Acrustico”. Este ano, quero ainda trabalhar o “Acrustico” acompanhado por outros músicos, formando um trio, e começar a trabalhar nos temas em formato elétrico, já pensando num álbum mais “cozinhado”.

J.A. – Encontraste muitas dificuldades ao longo da tua vida e carreira devido ao facto de seres algarvio? Foi preciso batalhar mais?
B.M. – Por ser algarvio não, direi mais por ser residente no Algarve. Isto porque, todas – ou as melhores oportunidades – estão nas grandes capitais como Lisboa e Porto. Por exemplo, ser músico não é apenas estar fechado numa sala e praticar bastante o seu instrumento para depois ir para palco. Passa muito também por observar outros artistas de grande nome e tentar da melhor maneira possível aprender alguma coisa com eles. Conhecer as pessoas certas na altura certa é importante e isto com 300 quilómetros (ou mais) de distância torna-se mais difícil. Mas, felizmente, as novas tecnologias têm as suas vantagens e hoje em dia é mais fácil conhecer e dar-nos a conhecer. Isso dá-me esperança…!

 

ENTREVISTA PUBLICADA NA EDIÇÃO DE 8 DE MARÇO DO JORNAL DO ALGARVE

Nuno Couto|Jornal do Algarve

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5 COMENTÁRIOS

  1. Incrivel a perseverança deste ser humano que tenho o prazer de à muitos anos chamar de mano.. Parabéns pela entrevista e pelo album… ÉS grande…..

  2. Maliji é Versátil e segue os seus sonhos. Genuino tal como o Acrustico. Passo a passo se constrói os sonhos. Aqui está um em andamento. Felicidades!?

  3. Parabéns ao Jornal por ajudar a divulgar o trabalho dos nossos músicos Algarvios, e Parabéns ao Maliji pelo longo e trabalhoso percurso até alcançar este sonho, e claro pelo resultado final que lá em casa conquistou gerações dos 7 aos 70..

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