Vai Andando Que Eu Estou Chegando

Opinião de Carlos Figueira

Ainda algumas notas finais sobre o resultado das Presidenciais sobretudo no que respeitam aos obtidos pelo PS e as restantes forças de esquerda, num momento em que se procura e bem conter estragos de maior repercussão quanto ao futuro imediato do País.

Mas, torna-se hoje mais claro, através de uma leitura mais atenta aos resultados globais obtidos por Marcelo Rebelo de Sousa que a sua candidatura ganhando em todos os distritos do País absorveu votos de todos os quadrantes políticos. Da direita e centro direita que votaram no seu candidato natural; do que acabou por beneficiar do rotundo fracasso que acabou por se demonstrar a candidatura de Maria de Belém; da multiplicidade de candidaturas que produziram dispersão, desvalorização do acto e desinteresse e, portando, beneficiando da abstenção; e de votantes à esquerda, designadamente do PCP, cujos resultados obtidos no Alentejo podem servir de exemplo, em resultado de uma candidatura que em si mesmo não era atractiva no quadro de uma estratégia que em consecutivas eleições Presidenciais se tem revelado sistematicamente perdedora; é neste complexo contexto que se tem de relevar a importância dos votos obtidos pela candidata do Bloco de Esquerda.

Todavia, para além da ambiguidade com que a direcção do PS se comportou face à candidatura de Sampaio da Nóvoa e à de Maria de Belém, faltou quer ao PCP quer ao Bloco, a dado momento, não terem tido a clarividência necessária que a situação exigia, para terem desistido das suas candidaturas com o apelo ao voto no candidato que em melhor situação estava para impedir a vitória numa primeira volta de Marcelo. Mais, se tal decisão a tempo tem sido tomada, influenciaria seguramente a posição da direcção do PS no sentido de tomar uma posição mais clara de apoio à candidatura de SN.

Por sua vez, a resposta que o PCP dá à derrota que sofreu, após a reunião do seu CC, não é só insuficiente perante os resultados obtidos, é mais grave, porque disfarçando os mesmos, ao não admitir claramente que se tratou de uma derrota, acrescenta ainda pela voz do seu Secretário Geral piadas de mau gosto em relação à candidata do Bloco reafirmando, em suma, a bondade da decisão tomada quando como se sabe tal estratégia se tem revelado sempre perdedora.

Veremos em breve o comportamento que a direcção do PCP assumirá quanto aos acordos obtidos com o PS e nesse sentido também se saúda a afirmação, saída da reunião do CC, da continuidade a tal compromisso. O contrário seria catastrófico para a dimensão do que, como Partido histórico, representa na sociedade portuguesa, pelo seu passado de luta contra a ditadura, pela generosidade sempre demonstrada de militantes e simpatizantes, cobrindo várias gerações, na luta por um Portugal livre e mais justo socialmente, como igualmente no reconhecido papel que desempenhou após o 25 de Abril na construção de um Estado Democrático que a Constituição de que também foi artífice consagra. Está assim ao alcance da sua direcção e dos seus militantes ser capaz de continuar a desempenhar o papel que lhe é devido na sociedade ou, a permanecer no autoconvencimento, preso a estruturas sindicais que lhe retiram autonomia política, ir definhando, hipotecando em beneficio de outros a influência que dispôs.

Quanto ao Bloco, a consolidar-se a influência que os resultados obtidos nas Presidenciais traduzem, expurgado da influência trotskista e diminuída a influência orgânica e política da UDP, à medida que se produz a sua aproximação ao poder, tenderá a operar-se no seu interior, e na expressão ideológica, de intervenção política, que tal posicionamento comporta uma mudança estrutural, numa metamorfose cuja expressão o situará mais próximo de um Partido Socialista de Esquerda aliás, num percurso que assistimos em relação ao Podemos na nossa vizinha Espanha.

Carlos Figueira

 

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