Vai Andando Que Estou Chegando

Carlos Figueira
Carlos Figueira
Foi membro do Comité Central e da Comissão Politica do PCP até ao XVI Congresso. Expulso do Partido em Setembro de 2002, num processo que envolveu Edgar Correia e Carlos Brito. É membro da Refundação Comunista. Saiu do país clandestinamente em Agosto de 1964, foi aluno da Universidade Livre de Bruxelas em Ciências Políticas e Sociais e mais tarde no Instituto de Ciências Sociais e Políticas de Moscovo. Atualmente é consultor de empresas, escritor e cronista regular na imprensa regional e nacional.

As festividades natalícias e de finais de ano foram perturbadas pela publicação de uma notícia que dava conta do pagamento a uma ex-administradora da empresa pública TAP no caso Engª. Alexandra Leitão, de onde tinha sido despedida, no valor de meio milhão de Euros. A partir desse conhecimento abriu-se um envelope tornando público que seis meses após, a mesma senhora, (cujas causas do despedimento continuam ocultas) pelos vistos, num ulterior reconhecimento das suas qualidades como gestora, foi empossada como Secretária de Estado do Tesouro, cargo que lhe conferia autoridade para tutelar todas as empresas públicas, incluindo a da empresa de onde tinha sido despedida. Uma trapalhada que deixa sem respostas convincentes o porquê de todos estes somatórios de actos, criando-se em seu redor uma inegável crise governativa, a deixar antever graves lacunas na sua coordenação, num caso sofregamente aproveitado por toda a imprensa e comentário político, acompanhada pela oposição que apressadamente por iniciativa da IL apresentou uma moção de censura, o Chega a pedir a demissão do governo e o PSD, mais prudente, a propor um debate de urgência no Parlamento.

Como consequência imediata temos a demissão do Ministro das Infraestruras que tutelava a TAP, a Ferrovia e a Habitação, áreas com fortíssimos lóbis, entre os quais o dos transportes terrestes. Hipocritamente, louva-se agora o acto cívico tomado por Pedro Nunes Santos, quando foi sistematicamente, por parte da imprensa e do comentário político, tido como figura a abater. Uma vez realizado o acto os mesmos viram-se agora contra Fernando Medina, Ministro das Finanças, visando a sua demissão, com tentativas de envolvimento da sua mulher, enquanto jurista da TAP, embora ao que tudo indica, longe do processo que conduziu à decisão indemnizatória. O tiro ao alvo tornou-se numa privilegiada arma de toda a direita contra o Governo que na actual situação não sai ileso da contenda.

A maioria absoluta que dispõe pode ter dado origem a arrogância, a um sentimento de impunidade, conduzindo a práticas de decisões em círculo fechado, entre amigos e colegas de turma universitária, fechando-se em torno de si mesmo. É de todo inaceitável que todo este rol de demissões e remissões tenha passado ao largo de quem as tomou, num silêncio ensurdecedor, revelando práticas descuidadas só possíveis porque ancoradas na maioria absoluta.

Marcelo, na qualidade de Presidente da República, tornou claro na referência a tais acontecimentos, duas questões que a meu ver marcarão o futuro imediato na relação com o Governo: o facto de não criar perturbações à execução das verbas do PDR; e não dispor à direita de soluções governativas que lhe garantissem estabilidade política na governação. Ficou entretanto no ar as condições em que a dissolução da Assembleia e a marcação de novas eleições possa ser solução por ele admissíveis. Realidade que torna o debate sobre a moção de censura da IL num acontecimento importante. Não porque cause de imediato perturbação ao funcionamento das instituições em causa, mas pode ajudar a tornar claro politicamente que o PS sozinho demonstra fragilidades para enfrentar a direita no seu todo, e PCP e Bloco não podem com a sistemática crítica ao governo sem abertura a qualquer negociação ou aproximação, tornar viável um governo de centro esquerda.

Por aqui os festejos natalícios prolongam-se até ao dia dos Reis Magos. Era tradição ser nesse dia que se distribuíam presentes, mas o consumismo antecipou a data para o dia de Natal, embora em matéria de lembranças, haja ainda espaço para celebrar o dia 6. As festas são vividas com grande intensidade, com destaque para o aprumo das mulheres que aproveitam para exibir as ofertas, no esmero que colocam na pintura dos seus olhos, tornando-os mais luminosos, ou na exibição dos seus lábios, pintados de um vermelho vivo, o que torna o conjunto sobre uma pele branca devidamente maquilhada num esplendor renascentista. Vive-se um dia de cada vez como se no horizonte não houvesse dia seguinte… “son felices a su manera“!

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02.01.2023

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