VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

Após uma longa e cansativa campanha que ocupou espaços sem outro critério que não fosse dar imagem e espaço ao centro direita, sem que daí resultasse qualquer clarificação sobre projectos para o futuro do País a não ser as velhas receitas da direita, eis que finalmente elegeram para líder do PSD/PP o até agora homem do Norte – Rui Rio. Interessante verificar que é justamente de forma expressiva a Norte, com algumas incursões ao centro, que Rui Rio ganha apoios, segunda a edição do Público de 15 de Janeiro. O que significa, sem disfarces, que os dois candidatos se movem num partido dividido ao meio, respondendo no fundamental aquilo que estrategicamente os dois se propunham para o futuro imediato, tendo como meta as eleições legislativas de 2019, ou seja, chegar e de forma ao poder. Porque na substância, quanto a propostas sobre o futuro do País, não se deslocaram do que Passos Coelho vinha defendendo.

É aliás com grande descaramento, ignorando que se trata do partido com mais tempo de exercício do poder pós 25 de Abril, como se nada tivessem que ver com tais responsabilidades no passado quando, abordando criticamente o posicionamento do actual governo em relação a funções fundamentais do Estado: Serviço Nacional de Saúde, Escola Pública, Reformas, Salário Mínimo, Emprego, Justiça, descentralização de funções, no sentido de melhor aproximação com a realidade de cada região, ou quando abordam temas tão difíceis quanto complexos, sobre a desertificação do interior, sem explicitarem causas e apontarem soluções, quer um quer outro candidato, se tenham refugiado nessa enorme expressão que dá para tudo e não dá claramente para nada – a das chamadas reformas estruturais.

O que o centro direita e a extrema direita não se conformam, clara e odiosamente, por razões de classe e obediência a posicionamento e compromissos políticos, é a permanência na área de poder da esquerda, colocando o seu afastamento como objectivo central, de forma a impedir ou condicionar, não só a estabilidade política mas, na substância, às medidas de reposição de direitos sociais, de uma nova visão sobre o desenvolvimento do País e a um novo posicionamento nas instituições europeias.

O que dividiu Santana de Rio foram os ritmos para alcançar tal objectivo. Enquanto Santana apostava numa vitória do PSD/PP sem alianças ao centro esquerda para assegurar tal propósito, Rio propunha-se alcançar a mesma meta, mesmo que à custa do disfarce das suas posições de fundo propondo-se fosse qual fosse o resultado obtido a oferecer a sua colaboração para a viabilização de futuro governo cujo objectivo final está atrair o PS para uma revisão constitucional que modifique em substância a natureza do regime de forma a impedir ou fortemente condicionar a participação da esquerda de forma directa ou indirectamente nas decisões do poder.

Mais explícita quanto a tal objectivo é difícil com clareza alcançar quando Manuela Ferreira Leite propõe que o PSD/PP deve vender “ a alma ao diabo “ ou seja, silenciar as divergências substantivas quanto à natureza do regime, para assegurar que a esquerda seja afastada das soluções e compromissos políticos que tenham, de alguma forma, relações com o poder.

É neste sentido que também se insere a declaração de Miguel Relvas quando anuncia que se trata de uma liderança de prazo curto cujo calendário está definitivamente marcado pelas eleições próximas, Europeias e Legislativas, a disputar no próximo ano o que também revela a fragilidade em que se encontra o principal partido da oposição.

Carlos Figueira

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