VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

Com o passar dos anos surgem as complicações da idade maior. Menos resistência, ossos a doer, dentes a terem de ser reparados, menor resistência às oscilações do tempo. Mas sobretudo é na perca da memória longínqua que tais manifestações ocorrem com maior incómodo. Vive-se da memória fresca do que os dias  oferecem com interesse para os segurar em tempos próximos. A não ser que acontecimentos no quotidiano te permitam recuperar acontecimentos de há várias décadas atrás.

Vem tudo isto a propósito do deputado Europeu Nuno Melo na Convenção Autárquica do CDS/PP, centrar a sua intervenção num ataque feroz, desorientado, revivalista a fazer lembrar os anos difíceis no pós 25 de Abril quando este mesmo mesmo discurso, contra a esquerda e em particular o PCP, cobrindo o centro e norte do País, era expresso como mola incentivadora a gente arregimentada mobilizada por cumplicidades várias nas quais se incluíam padres bispos  paróquia e uma parte do exército para proteger os assaltos a instalações do PCP, da UDP como as do MDP/CDE. Recuperei a memória e a presença em vários destes assaltos e em particular a que conduziu à completa destruição do Centro de Trabalho do PCP em Viseu. Nos últimos momentos sem defesas consistentes contra a turba ululante resolvemos e bem abandonar o local. Eramos três. Meses depois em jornadas memoráveis de enorme solidariedade conseguimos recuperar o edifício e colocá-lo de novo a funcionar para os objectivos que tinha sido alugado. Seguiram-se eleições creio que para a Constituinte nas quais me propus ser cabeça de lista sem nenhuma esperança de ser eleito, mas como um sinal de que nada em definitivo estava perdido.

Ao exemplo do deputado do CDS/PP seguem-se  outros dos quais destaco pela arrogância e a desconformidade com os factos que invoca, de um anticomunismo primário, o artigo desta semana de MST no Expresso. Porque tenho algum respeito pelo seu papel de comentarista na imprensa e na TV, só posso conceber tal raiva num texto escrito sobre influência de factores para além do normal.

Mas é nesta situação singular que a vida política vai ocorrendo marcada por uma direita que não oferece projecto, que nega os benefícios alcançados na reposição de direitos, na diminuição do desemprego, arregimentando fragmentos de alguns sectores profissionais, caso dos enfermeiros e juízes, para criarem disputas contra uma solução governativa que os incomoda, porque nunca imaginaram ficarem de fora das decisões do poder.

É neste ambiente de intriga e pressão sobre o PS que os próximos episódios em torno do Orçamento para o próximo ano vão marcar o dia a dia da vida política. Significativo a ter presente é o facto de em torno da possível diminuição de impostos Assunção Cristas tenha afirmado que se os houver terão de ser para todos porque, no entender descarado da senhora, e cito, não pode haver “ portugueses de primeira e segunda “ como todos fossem iguais quando a maioria ganha 7.000 ano e uns quantos ganham mais de 100.00 euros/ano. Aqui está  retratado um bom exemplo do que a direita entende sobre justiça social.

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Carlos Figueira

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