VAI ANDANDO QUE ESTOU CHEGANDO

Peço desculpa pela distracção mas a grande notícia desta última sexta-feira, é certo que concorria com o Torneio de Futebol do Guadiana que atraiu mais de 2000 jovens praticantes a que há que somar a presença dos pais, avós e primos, mas a notícia gorda, pelo sua insólita origem, foi dada pelo acto de um carro ter decidido estacionar nas margens do Guadiana, ali bem perto da foz.

O acontecimento conta-se em poucas palavras. O carro estava ocupado por dois adolescentes e uma senhora adulta na espera do quarto passageiro. Ao que se dá conta um dos adolescentes terá carregado num botão que destravou o veículo. Os carros agora são dotados de tanta tecnologia que nos surpreendem nas suas reacções. Vendo-se livre de tal amarra e seguramente farto da sua exposição ao sol, foi devagar deslizando para o rio de tal modo suave que deu tempo aos aflitos passageiros para se porem a salvo.

Deslizou suave vencendo o declive formado pelo paredão de forma a estacionar, ainda em tempo de maré alta no rio. Deu-lhe seguramente muito prazer refrescar-se. Diria mesmo, com algum atrevimento da minha parte, que o que lhe ia na alma era ter sido transportado pelas águas calmas do rio e do mar, para definitivamente estacionar numa das belas praias que lhe estavam tão próximas. Há desejos que são difíceis de concretizar mas, enfim, pelo menos refrescou-se e do insólito acontecimento saíram todos ilesos.

Voltando de novo aos acontecimentos de Pedrogão Grande o JP dessa sexta-feira referia que em matéria de gestão dos fundos que em breve tempo foram angariados, numa explosão de solidariedade que nos é comum, presente na reacção espontânea aos grandes acontecimentos e foram múltiplos da nossa história, já se perfilavam no terreno na gestão dos dinheiros a Misericórdia, a Caritas, a par do Estado e de outras estruturas associadas a Fundações privadas. Se assim continuar temo que a utilização de tais recursos passe a ser instrumento político em ano de eleições autárquicas com tudo o que podem ter de perverso.

Desde o início de todo este processo consolidei a opinião que todo esse manancial de solidariedade proveniente da sociedade deveria ser gerido pelo Estado através de órgãos legitimados pelo voto popular. Ou seja Associações de Municípios, ou estruturas intermédias dotadas de poder para tal, mas sempre com origem em membros de órgãos eleitos. As Misericórdias, a Caritas, e outras estruturas afins, sem que deixe de reconhecer o seu papel, embora destinadas a não erradicar a pobreza mas antes para a tornar menos dolorosa significa, num país laico, fortalecer o papel da igreja o que me parece desajustado em relação à Constituição que temos.

Mais, tais fundos a que seguramente se juntarão outros provenientes de ajudas da EU deveriam servir para organizar melhor a ocupação do território afectado, no plano agrícola, florestal ou até mesmo industrial. Temo por tal que se possam circunscrever à caridade ou à “recuperação” de casas desde há muito abandonadas.

A surpreendente notícia do roubo de armamento e monições em Tancos conduz-nos a uma realidade até agora desconhecida para a maioria da nossa população, ou seja, o funcionamento das nossas forças armadas. O que torna difícil perceber que tal acto não dispusesse de cumplicidades internas. O problema não se resolve a meu ver por demissões de ministros, por pressão política de toda a direita e o rol de comentaristas que lhes são afectos. A imagem e credibilidade deste governo perante a opinião pública ficará a dever-se à celeridade no apuramento de responsabilidades e essas depende fundamentalmente de quem esteve ou está próximo dos acontecimentos.

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NB: Defendo que o aeroporto de Faro se passe a chamar aeroporto do Algarve Manuel Teixeira Gomes

Carlos Figueira

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