Recorrendo mais uma vez às memórias, recordo que festejei o meu Primeiro de Maio em liberdade no Porto envolvido por uma imensidão de gente na Avenida dos Aliados frente ao Município. Ao António tínhamos decidido, dias antes, que ficaria em Coimbra, onde teve até a oportunidade de se dirigir aos manifestantes, e ao Vasco destinou-se participar em Aveiro. Foi desta forma que o “Comité Regional das Beiras“ composto exactamente por estes três figurantes tinha, ainda no fulgor e espanto das mudanças ocorridas no País com a queda da ditadura, estar presente num acto que como se veio a verificar teve profundas repercussões em todo o País a maior das quais em Lisboa, com a presença conjunta de Álvaro Cunhal e Mário Soares, regressados do exílio.
Passada a festa maior e mesmo com dinheiro que não abundava nos bolsos de cada um, resolvemos juntar-nos em torno de uma almoçarada em Coimbra para celebrarmos a nossa festa interior. Iniciava-se um novo ciclo nas nossas vidas. O Partido necessitava de se implantar no terreno distribuindo forças. Daqui resultou que o António regressou ao Minho, o Vasco ficou por Aveiro e eu em Coimbra embora com a enorme responsabilidade de todas as Beiras, na tentativa de construir um Partido num universo particularmente hostil.
Entre o momento de festa e a distribuição política de novas responsabilidades, confesso que cheguei a ponderar que o meu percurso como membro permanente do PCP estava esgotado com a queda da ditadura. O meu principal objectivo que me tinha conduzido a seis anos e meio de vida clandestina se tinha esgotado. Coloquei com naturalidade esta inquietação a alguns amigos e camaradas que me convenceram do contrário porque, como argumento maior ,tínhamos a obrigação de contribuir para criar um País melhor para o nosso povo, em liberdade, e tais objectivos não estavam assegurados, como de resto se veio a verificar por parte de uma direita rançosa, que tudo tentou a partir do 25 de Abril para abortar esse caminho que se tinha desenhado.
E assim foi! Lembro a propósito das novas realidades que os novos tempos nos proporcionavam, na acção política, na organização de vida, que num desses dias, seis meses depois do 25 de Abril, regressava a casa com a mãe dos meus filhos e ela se ter interrogado “vê lá tu o que isto mudou, regressamos a casa num carro por ti conduzido, quando há seis meses atrás não tínhamos nem casa nem nome próprio“. Valeu a pena!
Tomei conhecimento através do “Algarve Marafado“ de 28 de Abril que uma proposta do movimento “Servir Portimão“ na Assembleia Municipal deste município, para que o nome do aeroporto de Faro se passasse a chamar aeroporto Teixeira Gomes, proposta que numa votação fragmentada, por parte das diversas forças políticas presentes nesse órgão, acabou por ser derrotada com sete votos favoráveis e 16 contra, embora com considerações gerais quanto ao tema favoráveis à ideia mas remetendo para órgãos regionais a sua discussão e decisão.
Desde há alguns meses. para os leitores que ainda vão tendo paciência para me ler nestas crónicas semanais, defendo a ideia para que, aproveitando o momento da inauguração das obras que ocorrem visando a modernização dos serviços em terra, que o seu nome deveria ser atualizado para “Aeroporto do Algarve – Manuel Teixeira Gomes“. A iniciativa agora tomada, e daqui saudada, do movimento “Servir Portimão“ peca por retirar “Algarve“ ao propósito e daí, objectivamente, contribuir para o seu isolamento reflectido aliás na votação final. Teve entretanto o mérito de colocar o problema em discussão, concordando que se trata de uma matéria que deve unir os algarvios e nesse sentido cabe aos órgãos regionais se assim o entenderem tomar a iniciativa em mãos, a bem do Algarve, e em homenagem às suas figuras mais marcantes e Teixeira Gomes é um deles.
Carlos Figueira
NB: Defendo que o aeroporto de Faro se passe a chamar aeroporto do Algarve Manuel Teixeira Gomes