Só ao mais devotos encontram no comportamento político da direita alguns sinais de coerência quanto ao que representam na sociedade portuguesa. Porque o prolongamento do folhetim em torno dos sms entre o Ministro das Finanças e o senhor banqueiro António Domingues, indigitado para a Presidência da CGD, cargo que acabou por não exercer porque ele e a equipa por si escolhida se negaram a apresentar as declarações de rendimentos ao Tribunal Constitucional, a que estavam obrigados pelo facto de passarem a ser gestores públicos, tal folhetim, tende a tornar-se numa telenovela sem fim a que a maioria dos portugueses deixou de prestar atenção, a não ser no círculo dos mais devotos. Para esses vale tudo até a forma, no mínimo deselegante, com que o líder parlamentar do PSD classificou, como acólitos, os partidos que à esquerda do PS apoiam esta solução governativa e combatem politicamente esta deriva da direita. Porque esgotada de argumentos perante os resultados económicos que o País apresenta, os melhores das últimas quatro décadas, com o prolongamento do folhetim, procuram igualmente que os compromissos assumidos pelo governo anterior sobre a privatização do maior banco português passem ao lado da chuva dos dias e esse tempo para a direita era a destruição da CGD vendida a privados a preços de saldo.
Felizmente a vida política não está presa aos compromissos da direita enquanto exerceram o poder. As instituições funcionam o que significa que para além do contraditório a democracia prossegue o seu caminho. Nesse sentido o Bloco de Esquerda acaba de apresentar um Projecto de Lei sobre a Eutanásia ou a Morte Assistida, reconhecendo um direito em condições muito detalhadas para o poder exercer, a quem em situação terminal de vida, o possa legitimamente invocar, reclamar. Creio tratar-se de um direito de avanço civilizacional na linha que o País teve em abolir a pena de morte na última metade do século dezanove, ou seja em 1867, com a única exclusão para crimes de natureza militar.
Está aberto um debate na sociedade em torno de matéria delicada num país esmagadoramente católico, praticante ou não. Estando de acordo com o princípio que o Projecto envolve, duvido da sua oportunidade temporal, num ano de celebração dos 100 anos da suposta “ aparição “ aos pastorinhos da Virgem, com as celebrações presididas pelo Papa Francisco. Tema que o debate que está aberto possa ser envenenado pelas circunstâncias.
Por iniciativa do actual governo em breve estará em discussão uma reforma fundamental para o País em torno das medidas que podem vir a ser consagradas quanto à descentralização de poderes do poder central para regiões e autarquias locais.
Como princípio estou do lado de medidas que favoreçam a tomada de decisões que permitam estar mais próximas dos cidadãos. Porque mais facilmente escrutinadas e porque o processo pode facilitar um envolvimento maior dos cidadãos perante projectos que, quer no plano regional, que local podem interferir na sua vida futura, em termos de desenvolvimento, emprego, qualidade de vida. Trata-se de projectos e a discussão está aberta. Seguramente muitas das matérias tenderão de ser ajustadas. Àreas Metropolitanas em Lisboa e Porto terão de ter ajustamentos a realidades diferenciadas como as do Algarve como região única. Mas, seja qual for o caminho que esta fase, ainda muito inicial possa ter, creio que se trata de um processo que interessa à esquerda e nesse plano não acompanho a posição expressa pela coordenadora do Bloco, opondo-se desde já, a meu vêr, com sentido excessivamente critico a tais reformas. Eventualmente porque o BE tem uma expressão residual no plano autárquico.
Carlos Figueira
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NB. Quando da inauguração das obras que decorrem no aeroporto de Faro defendo que o mesmo passe a chamar-se Aeroporto do Algarve Manuel Teixeira Gomes.
