Volto a Mário Soares. Fui surpreendido pela sua anunciada morte apesar das notícias sobre o seu estado de saúde anunciarem o pior. Mas a morte é a pior das notícias sobre quem quer que for. Na circunstância, tratava-se de uma personagem que na resistência à ditadura e na procura de estabilidade do regime democrático procurou, creio, sinceramente, que apesar de todas as divergências com a esquerda, que Soares se posicionou mais de acordo com a correlações de forças em presença e nesse sentido teve um papel que ainda hoje não lhe está inteiramente reconhecido (para o bem e para o obscuro) devidamente em relação, entre outras decisões, ao processo da descolonização.
É exactamente por tal, que embora as diferenças e conflitos políticos que marcaram a vida política nesses tempos, particularmente entre Eanes e Mário Soares, como Primeiro-Ministro e Presidente da República, sublinho e revejo-me na postura de Eanes, ao considerar que a Pátria lhe era devida nesta homenagem, o que o coloca numa figura de estado para além das disputas partidárias do momento.
A direita e sobretudo o centro direita procurou ofuscar as comemorações procurando minimizar a importância de uma personagem que inquestionável marcou o combate à ditadura e também por um posicionamento ideológico de centro esquerda quando a esquerda aspirava a outro substantivo aliado do PCP, distante do populismo de origem chinês que confundiu e dividiu ideologicamente a esquerda e em particular quadros e influencia oriundos do PCP.
Voltando a Soares não tenho dúvidas que a homenagem que lhe foi prestada foi na justa medida de um homem que foi uma relevante figura de estado nas múltiplas funções que lhe foram conferidas e das quais, umas mais que outras, nos referenciamos. Sendo, no mesmo sentido, uma inquestionável figura do 25 de Abril.
Carlos Figueira