Vai Andando Que Estou Chegando

Carlos Figueira
Carlos Figueira
Foi membro do Comité Central e da Comissão Politica do PCP até ao XVI Congresso. Expulso do Partido em Setembro de 2002, num processo que envolveu Edgar Correia e Carlos Brito. É membro da Refundação Comunista. Saiu do país clandestinamente em Agosto de 1964, foi aluno da Universidade Livre de Bruxelas em Ciências Políticas e Sociais e mais tarde no Instituto de Ciências Sociais e Políticas de Moscovo. Atualmente é consultor de empresas, escritor e cronista regular na imprensa regional e nacional.

No mesmo dia em que foram pagas a pensionistas as respectivas pensões com o acréscimo da bonificação de meia pensão, o jornal Público anunciava em capa “o maior corte de pensões em termos reais em 15 anos“. Esta posição reflete o estado geral em que se encontra a imprensa face a qualquer medida que o Governo tome, inserindo-se tal postura no quadro de uma batalha política que em termos comunicacionais este saiu a perder, tornando claro uma das suas maiores fragilidades.

Por arrasto seguem-se no mesmo sentido, posições políticas da esquerda a direita, sendo preocupante que na esquerda não se vislumbre que, de entre as medidas anunciadas, algumas poderão ser úteis para o País e para quem nele vive e trabalha. Pela parte que me toca, já aqui o tinha evidenciado, fiquei deveras satisfeito com o bónus da meia pensão como com a expectativa de a partir de janeiro ter um aumento em torno dos 4%, o maior dos últimos anos, confiante que o SNP continuará como serviço público e que todas as notícias sobre a sua anunciada morte são de facto exageradas. Expectante igualmente que o governo tome medidas a tempo, se a inflação não baixar, de forma a que os aumentos não sejam engolidos nesse processo.

Boa notícia a sublinhar é finalmente a do arranque de todo o processo administrativo que conduz ao início da construção do Hospital Central do Algarve, com a sua localização desde sempre, prevista para o Parque das Cidades, estrutura cujo final já esteve anunciada para 2023. É por tal estranho que o Presidente da Câmara de Albufeira (JA edição 06.10) venha agora defender uma localização diferente, remetendo-a para o seu concelho, daquela que desde sempre foi descrita, com argumentos que não se justificam, sobretudo em termos de acessibilidades. Estou, como sempre estive, em desacordo que quando se trata de grandes obras, quer no plano regional, como esta, quer em termos nacionais, a decisão final dependa do acordo de autarquias, sejam elas o que forem, no plano geográfico ou político, como foi o caso da construção do novo aeroporto alternativo ou complementar ao atual em Lisboa, cujo efeito levou ao arrastamento da decisão, até aos dias de hoje, já lá vão cinquenta anos.

Má notícia é a do anúncio da Ucrânia integrar, a par de Portugal e Espanha, no processo de escolha, para acolher a disputa da parte final do campeonato do Mundo de futebol em 2030. Misturar política com futebol é já por si um mau procedimento que conduz a comportamentos deprimentes que em nada beneficiam o desporto. Tomar tal decisão sem ter em conta a guerra em que se encontra o País sobre o qual nada hoje se sabe quanto ao seu futuro, com segurança, somada ao facto da Federação Russa ter sido afastada de todas as competições internacionais, em qualquer das modalidades em disputa, é lançar fogo para uma fogueira na qual em cada dia morrem pessoas inutilmente. Decisão que para além de imprudente alimenta ódios que a todos nos compete repudiar, num caminho inverso ao da procura da Paz.

No Mundo incerto em que vivemos temos algumas excentricidades como a de ter um Presidente da República excursionista. De facto, Marcelo não para, do Brasil para os EUA, antes para Moçambique e quando aterra já tem uma qualquer festarola ou ato solene a exigir a sua presença, situações com direito a entrevista nas TVS. Nos pequenos intervalos que lhe sobram, perante tal densidade de visitas, arranja tempo para uns bitates, alguns com intromissões políticas grosseiras, fora das suas competências, em torno da situação do País as quais servem, por sua vez, para interpretações ambíguas, extemporâneas, exploradas por uma comunicação social, também a viver de casos, tal como de resto a oposição à direita a este governo.

Aproxima-se a discussão do OE para o próximo ano. Do que restar dessa discussão, cabe uma grande responsabilidade à esquerda em matéria de votação final. Manter-se sistematicamente numa posição política de crítica destrutiva, só conduzirá para cavar o seu isolamento político já hoje bem visível. É não aprender com as derrotas, é estar fora do senso comum, mesmo de todos os que pensam à esquerda.

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