Tramados pela Copa

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Um dia depois do cair do pano do Mundial brasileiro, Luiz Felipe Scolari foi despedido. O treinador veterano ainda tentou segurar o lugar, mas o vexame frente à Alemanha e à Holanda deixou-o sem salvação possível. Irmãos na desgraça, Vicente Del Bosque, Paulo Bento e Roy Hodgson, cujos equipas foram despachadas para casa na primeira fase, sobreviveram ao desastre.

Ao selecionador espanhol valeu-lhe os pergaminhos de campeão da Europa e do Mundo, ao português a vontade de Fernando Gomes honrar o compromisso contratual até 2016, e ao inglês, o terceiro técnico mais caro do Mundial (3,8 milhões de euros), a nacionalidade britânica.

“Se fosse estrangeiro, [Hodgson] já tinha sido despedido.” Palavra de Sven-Goran Eriksson, ex-selecionador inglês chicoteado em 2006. Van Gaal, treinador da Holanda, já entrou no mundial com contrato assinado com o Manchester United.

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Scolari de saída quando “estava dormindo”

A jogar em casa em busca do hexa, o veterano técnico brasileiro era uma das estrelas do banco e o timoneiro de uma das equipas favoritas ao título mundial. Vaidoso e com um salário de 4,4 milhões de euros (segundo o “ranking” da Forbes), escusou-se sempre a falar sobre o futuro, mesmo quando sucumbiu aos 3-0 frente à equipa holandesa, resultado que deixou os brasileiros fora do pódio.

As notícias sobre a sua saída não são consensuais. Foi Felipão que colocou o lugar à disposição ou foi surpreendido com a carta de demissão compulsiva? Segundo a assessoria de Scolari, a CBF aceitou o pedido de renúncia do técnico domingo à noite, mas diz que Scolari ainda não tinha sido avisado da decisão “pois estava dormindo”.

A nota oficial de despedimento de toda a equipa técnica, assinada por José Maria Marin, presidente da CBF, foi divulgada segunda-feira. O sucessor ainda é um mistério, mas ganha força de dia para dia a hipótese de o próximo selecionador chegar do exterior – e um dos nomes falados é o de José Mourinho.

Prandelli, o homem da “responsabilização”

Treinador da ‘squadra azzurra’ desde 2010, refrescou a equipa e o estilo da sempre temida Itália. O quarto treinador mais bem pago da Copa ficou pelo caminho logo na primeira fase, tendo apresentado a demissão a seguir à derrota (1-0) frente ao Uruguai.

“Quando um projeto técnico falha, é preciso haver responsabilização”, afirmou o técnico que preferiu sair de mote próprio. Mas apesar de ter dado a mão à palmatória, não se coibiu de repartir culpas. “Esta Itália é tecnicamente limitada”, defendeu. Prandelli arrastou consigo o presidente da Federação Italiana de Futebol, Giancarlo Abate, que avançou que esta seria uma decisão tomada já antes do Mundial.

Fernando Santos e a saída anunciada

Estava há quatro anos na liderança técnica da seleção grega. Os gregos, umas das boas surpresas europeias da primeira fase da prova, sucumbiram nos penáltis (5-3) aos pés da Costa Rica, no jogo dos oitavos de final.

Fernando Santos não assistiu à tragédia por ter sido expulso do banco. O anúncio da despedida já tinha sido feito em fevereiro, a pedido do treinador português.

Queirós, quase quase a travar Messi

Tal como na África do Sul em 2010, o eterno campeão dos “miúdos” voltou a não ser feliz no Brasil. Com quatro presenças em mundiais, o Irão foi eliminado num grupo que tinha Argentina (Messi rompeu o 0-0 aos 90 minutos), Bósnia Herzegovina (1-3) e Nigéria (0-0). Queirós, queixoso por natureza, desta vez escudou-se de dificuldades nos estágios da seleção por constrangimentos políticos.

Sabella em fim de ciclo

Aos 59 anos deixa a seleção argentina sem o título tão desejado desde 1986. Chegou à grande final do Maracanã, mas a vitória acabou por sorrir aos mais confiantes alemães no prolongamento.

“Diz-me o que sentes agora” foi uma das frases mais cantadas pelos adeptos argentinos nas constantes provocações aos vizinhos brasileiros, sobretudo após os 7-1. A seleção de Sabella acabou por não ser a última a rir-se, embora a decisão de Sabella ir embora já estivesse tomada quer ganhasse ou não a Copa.

Timoneiro da equipa desde 2011, entendeu que foi o fim de um ciclo.

Van Gaal. O pódio antes de Old Trafford

Terceiro classificado do Mundial 2014, o técnico holandês trocou ainda antes da Copa a seleção do seu país pelo rico Manchester United. Aos 62 anos, chega aos “red devils” para tentar fazer esquecer o lendário Sir Alex Ferguson, missão para a qual já disse não contar com Nani.

Para o banco holandês entra o compatriota Guus Hiddink, treinador livre após três temporadas duras no Anzhi, da Rússia.

Ninguém deu por Zaccheroni

Campeão do Taça da Ásia, foi outro italiano que não se deu bem com os ares do Brasil. Assumiu a responsabilidade pelo fraco rendimento da seleção japonesa, cuja vontade em campo não chegou para levar a melhor sobre a Grécia, Costa do Marfim e Colômbia.

Lanterna vermelha do grupo C, apenas com um empate sem golos frente à seleção de Fernando Santos, apresentou de pronto a demissão, afirmando que chegara a hora de dar lugar a outro.

Sabri Lamouchi. Podem perceber porquê

Aos 42 anos, o ex-futebolista francês de ascendência tunisina não conseguiu como esperava uma vaga nos oitavos de final. Logo depois de a Costa do Marfim ter perdido com os gregos, colocou o cargo à disposição.

Com um mau percurso na Taça das Nações Africanas, o fracasso no mundial ditou-lhe o destino. “O meu contrato chega ao fim neste Mundial e não vai haver continuidade. Podem perceber porquê.”

Hong Myungbo. Caramelos ácidos

Com um ponto em três jogos (1-1 frente à Rússia), o selecionador da Coreia do Sul pediu a demissão após as derrotas com a Argélia e Bélgica. A Associação Coreana de Futebol demorou uma semana a decidir-se, mas acabou por deixar cair o técnico que antes da partida para o Brasil prometera dar esperança aos coreanos.

À chegada a Seul, a comitiva foi recebida com arremesso de caramelos (um insulto, não mimos) e faixas dizendo “o futebol coreano está morto”.

Stephen Keshi. Efémero

A passagem aos oitavos de final não poupou o técnico da Nigéria à recorrente chicotada psicológica quando os golos teimam em não entrar. Derrotados (0-2) pela França, Keshi e Joseph Yobo, capitão das ‘Super Águias’, queixaram-se em vão de um golo anulado e da falta de sorte.

O selecionador da Taça Africana das Nações 2013, que tinha uma equipa muito jovem e promissora, passou à história num mundo de glória efémera.

Vahid Halilhodzic. Sair com estilo

O técnico bósnio e a seleção argelina foram duas das boas surpresas do Mundial 2014. Conseguiram o feito inédito de ultrapassar a fasquia da primeira fase, mas tiveram o azar de enfrentar a Alemanha nos oitavos de final. Resistiu com estoicismo nos 90 minutos, claudicando no prolongamento.

Os adeptos fizeram a festa na mesma, mas o treinador bósnio optou por regressar a casa após três anos na Argélia.

Luis Fernando Suárez. Triste, mas lúcido

Três jogos, três derrotas, assim se resume a breve história da equipa das Honduras no mundial brasileiro. Com um único golo na prova frente ao Equador, o colombiano Luis Fernando, 54 anos, despediu-se, triste, mas lúcido: “Está na hora de começar a procurar emprego”.

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