Tavira: Planeamento das escavações em Balsa poderiam prolongar-se de dois a seis anos

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Antiga cidade romana de Balsa

Direção Regional de Cultura do Algarve está disponível para colaborar e já garantiu ao arrendatário dos terrenos que irá realizar o caderno de encargos. O arrendatário também já mostrou a sua disponibilidade para colaborar em todo o processo

DOMINGOS VIEGAS

A diretora regional da Cultura do Algarve garantiu ao Jornal do Algarve que aquela entidade “está disponível e a colaborar” com os atuais arrendatários da Quinta da Torre de Aires, na Luz de Tavira, onde se localiza a antiga cidade romana de Balsa, para dar seguimento às escavações arqueológicas.

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O extenso território, cerca de 47 hectares, que era ocupado pela cidade de Balsa “distribui-se em dezenas de propriedades privadas de complexa gestão do ponto de vista patrimonial”, explicou Alexandra Gonçalves, frisando que “as escavações neste lugar exigem um rigoroso planeamento em dois a seis anos”, bem como “um projeto cientificamente validado, meios e articulação entre a administração de vários níveis e os proprietários”.

A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, tal como o JA noticiou na edição de 12 de novembro, embargou recentemente uma parte dos trabalhos para a instalação de estufas destinadas ao cultivo de frutos vermelhos, devido ao facto de os arrendatários do terreno terem avançado com as obras em zona de Reserva Ecológica Nacional (REN), sem autorização prévia.

Apesar do embargo não ter acontecido devido ao valor arqueológico da zona, a medida foi tomada após a fiscalização efetuada pela Direção Regional de Cultura do Algarve (DRCAlg), em colaboração com a GNR, depois de uma denúncia.

Arrendatário dos terrenos está disposto a colaborar

Entretanto, a DRCAlg já notificou o arrendatário dos terrenos para a “aplicação de medidas de minimização de impactes negativos no património”, tendo ainda realizado a avaliação prévia do estado de conservação dos testemunhos arqueológicos.

As ruínas de Balsa continuam soterradas na Quinta Torre de Aires
As ruínas de Balsa continuam soterradas na Quinta Torre de Aires

“Em reunião com o arrendatário, que mostrou disponibilidade em colaborar, a DRCAlg informou que iria realizar o caderno de encargos que permitisse ao arrendatário consultar empresas e laboratórios especializados para a concretização das medidas de minimização”, revelou Alexandra Gonçalves, frisando que estas medidas deverão incluir prospeção e registo arqueológico, prospeção geofísica e sondagens arqueológicas.

“Simultaneamente, temos mantido contacto com todas as entidades intervenientes no processo, para congregar esforços na salvaguarda e estudo deste importante sítio, em particular com a CCDR Algarve”, sublinhou a máxima responsável da área da Cultura na região.

Uma “super cidade portuária”

As ruínas de Balsa foram descobertas por Estácio da Veiga, em 1866. De acordo com as publicações e intervenções realizadas, os vestígios arqueológicos desta cidade romana ocupam uma área de cerca de 47 hectares, que incluem a zona urbana, necrópoles, construções portuárias, fábricas de salga de peixe e bairros habitacionais, distribuídos ao longo da Ria Formosa, entre a ribeira da Luz e Pedras d’El Rei.

“Conímbriga ao pé daquilo é uma pequena cidade de província… Mesmo Lisboa era mais pequena. Balsa era uma super cidade portuária”, referiu recentemente, em declarações à Rádio Renascença, Manuel Maia, autor do único relatório técnico arqueológico daquele sítio, realizado nos finais da década de 1970.

O local foi classificado como imóvel de interesse público em 1992, mas só em 2011 viu publicada em Diário da República a sua Zona Especial de Proteção, que é uma das formas previstas para salvaguardar e condicionar a intervenção sobre o património classificado e a sua envolvente, que inclui toda a Quinta de Torre de Aires.

Exploração agrícola na Torre de Aires
Exploração agrícola na Torre de Aires

Durante aquele período, os trabalhos agrícolas, alguns realizados de forma intensiva, e os loteamentos foram destruindo grande parte do património arqueológico existente. Ao mesmo tempo houve várias tentativas de negociação com o proprietário, mas sem resultados. Aliás, o facto de os terrenos serem privados e os altos custos de uma intervenção arqueológica numa área daquela dimensão são apontados como os motivos para que a zona esteja há tantos anos a aguardar escavações.

Refira-se que alguns dos objetos romanos provenientes de Balsa estão presentes em diversas coleções arqueológicas públicas e privadas. A maioria dos que estão reunidos no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, pertence ao espólio de Estácio da Veiga e continua à espera da construção do Museu Arqueológico do Algarve.

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(Texto publicado na edição impressa do Jornal do Algarve de 19 de novembro)

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