Esta terça-feira, Passos Coelho surpreendeu com o discurso no fecho das jornadas parlamentares do PSD, no Porto, ao referir-se a si próprio: “Não sou um cidadão perfeito”, disse, frisando que nunca ter feito uso do cargo de primeiro-ministro “para enriquecer, prestar favores ou viver fora das suas possibilidades”.
Um dia depois, José Sócrates responde a estas afirmações, por escrito, ainda que o seu nome não tenha sido sequer pronunciado durante aquela sessão social-democrata. O antigo primeiro-ministro tem a certeza de que “se tratou de um cobarde ataque pessoal”.
A carta escrita por Sócrates a partir da cadeia de Évora, onde se encontra preso preventivamente desde a madrugada do dia 25 de novembro, foi entregue à rádio TSF e aos jornais “Diário de Notícias” e “Jornal de Notícias” pelos advogados do recluso número 44.
A missiva tem quatro parágrafos, especifica a TSF numa notícia publicada no seu site às 23h57 desta quarta-feira, e nela fala num “cobarde ataque pessoal” e numa tentativa de condicionamento do resultado das próximas eleições, uma perseguição política, e a prova “agora clara aos olhos dos portugueses”.
Sócrates refere-se a “um momento desesperado” de Passos Coelho “face às acusações de incumprimento de obrigações contributivas”. “Ao atacar um adversário político que está na prisão a defender-se de imputações injustas, Passos não se limita a confirmar que não é um cidadão perfeito, antes revela o carácter dele e o quanto está próximo da miséria moral”, cita a mesma notícia.
O antigo líder socialista não desperdiça a oportunidade para sair em defesa de si mesmo: “O senhor primeiro-ministro, para quem manifestamente vale tudo, compreenda o valor da presunção de inocência num Estado de Direito, a extrema importância do respeito pelo princípio da separação de poderes e muito menos que entenda que, no meu caso, não só ainda nada foi dado como provado como não foi sequer deduzida qualquer acusação”.
Sócrates termina a carta com um desafio: “Em vez de atirar lama para cima dos outros, faria melhor em explicar aos portugueses se ele próprio cumpriu ou não cumpriu a lei”.
José Sócrates é suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, corrupção e branqueamento de capitais.
RE