SMS: Querença, sinónimo de pequenos milagres

Milagre, pequeno ou grande, é aquilo que ninguém acredita que pode acontecer, mas sucede. Creio que cabe a Fernando Pessoa a definição do milagre que não seja artimanha, tramóia montada ou embuste, quando observou que “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Ou, por outras palavras, quando a obra não nasce, é porque o homem não sonha, e se não há sonho humano também Deus não quer…

Vem isto a propósito de um milagre que, para quem sabe, é sinónimo de Querença, essa aldeia de que não me fartarei de dizer que é uma pérola encastoada no anel que os primeiros dedos da Serra Algarvia mostram. O milagre até poderia ter-se traduzido em mais um elefante branco a passear na loja de porcelanas algarvia, até poderia ser mais um resultado dessa vil estratégia de queimar dinheiro para nada como nas competições de fogos de artifício, ou até poderia ter-se convertido em trampolim da ginástica política, tão como nas nossas piscinas de saltos acrobáticos ou nos nossos circos de poder. Mas não, o milagre de Querença, tudo leva a crer, sucede porque não tem fugido da regra que o sonho deve ter para que a obra nasça: “A cultura é só uma, tudo o que aprendemos do nascer ao morrer, da nossa invenção ou alheia, sentados nos bancos da escola ou da vida”. Que estabeleceu a regra de Querença foi Manuel Viegas Guerreiro, patrono da obra que, tudo leva a crer, Deus quis em Querença e com provas dadas.

Primeira prova, é a iniciativa conhecida por Romanceiro.pt, uma plataforma que integra o Arquivo do Romanceiro Português, com 3.632 versões inéditas de romances e ainda 10.096 versões de romances publicados entre 1828 e 2011, decorrente de 660 horas de gravação em 609 cassetes audio depositadas na Fundação Manuel Viegas Guerreiro.

Segunda prova, o Centro de Estudos Algarvios com documentação sobre a história do Algarve (livros, folhetos, cartazes).

Terceira prova, o avanço do designado Projecto Querença, orientado para as áreas rurais de baixa densidade, aldeias, grupos de aldeias ou mesmo de municípios, com análise de recursos existentes, potenciais e disponíveis de territórios em estado crítico.

Quarta prova, o Festival Literário Internacional de Querença, o “FLIQ”, que vai apenas na segunda edição mas já parece coisa adulta.

Quinta prova, a Hemeroteca do Algarve que está a sair do sonho para obra.

Sexta prova, as próprias instalações da Fundação que surgem à vista como nossa invenção ou alheia.

Sétima prova, Luís Guerreiro, o presidente da Fundação, sentado no banco da escola ou da vida.

Flagrante terra de eleição: Alcoutim. Nem se duvide

Carlos Albino

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