SMS: Petróleo? Agora fia mais fino

Opinião de Carlos Albino

Thomas Friedman é o autor do polémico livro O Mundo é Plano, título que só por si constitui um programa pró globalização. Uma vez lido, faz muita gente ficar com os cabelos em pé pela forma épica como o autor, em 2006, achatava a Terra à medida de uma tigelada. Na verdade, estes dez anos vieram encarregar-se de demonstrar que o seu triunfalismo militante não correspondia à aurora dourada que previa estar a caminho. Mas o importante é que nem tudo o que escrevia está fora da calha, e muito do que diz, sobretudo nas crónicas do The New York Times, tocam a realidade dos factos. E se me lembro do seu nome, neste momento, é porque foi sua a afirmação de que se se queria descobrir os caminhos do crime dever-se-ia seguir os rastros do petróleo.

A propósito da tentativa de extracção de petróleo e gás natural no Algarve, eu não vou tão longe. Não vou dizer que, no rasto deste propósito, se está a descobrir o fio de um crime, mas que se está no rasto de um acto de sedição, isso parece óbvio que sim. Bastaria ter assistido ao último debate de Prós & Contras para se perceber que na falta de clareza, contradições, sobreposição de funções, omissões e prepotência dita científica, está em marcha uma sublevação branca da ordem pública. Uma sublevação pacata, manhosa, feita com as delongas de quem sabe esperar, e as poucas palavras de quem há muito sabe que pela boca morre o peixe. Aquilo a que se assistiu, da parte da bancada dos prós-produção, foi tudo isso, e em certos momentos quase se esteve a dar plena razão à apreciação de Thomas Freidman.

Deixando, no entanto, o caso do fracking de lado – a jornalista não deixou de dar a palavra em abundância, a quem o pôde descrever – este confronto, que resulta de uma acção lamentável, que infringe todos os limites da cidadania, no entanto apresenta um lado muito positivo. O Algarve acordou em peso para a indiferença com que tratam a região, para o desprezo e a prepotência com que se age sobre os algarvios e os outros seus residentes. E nós, apodados de moles, desunidos, indiferentes e egoístas, eis que de repente mostramos uma faceta contrária. Duros, unidos, altruístas, e com vontade firme de derrubar uma estratégia, que se não é criminosa nas intenções, acabará por constituir um crime económico, social e ecológico, se acaso for adiante. Vítor Neto de sábio dedo estendido, avisou – “Isto não acontecerá”.

Assim esperamos, pois o que nos leva à revolta e ao movimento, neste acaso, não é a mudança ridícula de Algarve para Allgarve. Agora fia mais fino, e o motivo escreve-se com outras letras porque elas servem para manter intacto o nosso chão.

Flagrantes vozes do Algarve: Muito bem, Jorge Botelho; muito bem, José Amarelinho; muito bem, Vítor Aleixo.~
Carlos Albino

 

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