SMS: Os Filipes

Antes de mais, uma saudação especial a quem se chame Filipe. Não têm nenhuma culpa do rastro alegórico deixado pelos três Filipes castelhanos na política e nos costumes portugueses. Conforme a fase, assim varia ser Filipe ou não. Há fases que ser um Filipe é uma condenação social e até mesmo um impedimento para ascender a funções. E, além da fase, conforme as regiões. No mesmo momento, há regiões que consideram como Filipe quem venha de fora, mesmo que não seja para dominar e usurpar – basta não ter nascido, sido criado e não tenha o sotaque da terra. E há regiões, em que um Filipe até pode receber a medalha de ouro da terra.

Exemplos? Um algarvio que se candidate na Guarda ou na Covilhã. Está feito. Ao primeiro dia, corre em surdina que é um Filipe, ao segundo dia já se diz em voz alta e à boca cheia que não passa e um Filipe, e ao terceiro dia reúnem-se os directórios e o desgraçado do Filipe pode arrumar a pasta. E no aparelho de Estado, que, em algumas fases, é um aparelho para eliminar Filipes quando regiões dominantes julgam e agem como se o Estado fosse coisa de propriedade regional, um Filipe, para subir um poucochinho, tem que se disfarçar muito.

Já no Algarve, hoje em dia, ser um Filipe ou não, tanto faz. Por vezes até, basta ser um Filipe para ser alvo de consideração, tanto que o Filipe na sua terra longínqua de origem pode ter a reputação comprovada de ignorante, e basta-lhe adquirir algum bronzeado em qualquer negócio para tomar a A2 como inteligente,

Na verdade, um Filipe, qualquer Filipe, define o ponto de onde tanto se pode ter a sorte de derivar para a sensatez, como para a irracionalidade. A falta de sensatez pode levar aque um presidente de junta seja todo como um Filipe se não nasceu na freguesia e não tem como livro de cabeceira e único o Dicionário do Analfabetismo Algarvio. E a ausência de irracionalidade também pode levar a que se entregue a um Filipe que não sabe nadar, a salvação de um barco de náufragos.

Em todo o caso, mais Filipe menos Filipe, não é por aí que a pátria se afunda. O problema é quando um Filipe é nascido e criado na terra, e têm o mesmo sotaque da mãe e do pai, mas se tornam mais Filipes que os Filipes vindos de fora.

Bem hajam.

(Próximo episódio: O Burgessos, e a seguir Os Algarviotes, depois Os Algarviões e,
para finalizar, Os Algarvios)

Flagrante pobreza: Os slogans para as autárquicas não passam do óbvio e do simplesmente obrigatório.

Carlos Albino

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