SMS: Não teremos Algarvexit

Opinião de Carlos Albino

O que se temia está a acontecer. No dia seguinte ao 24 de Junho, um pouco por todo o Reno Unido, assiste-se a manifestações xenófobas desabridas e revelam-se rancores racistas até agora mantidos em silêncio, lá onde havia um certo fair play ou pelo menos uma tolerância educada. É a prova de que o tom dos políticos, as suas frases, as suas promessas, as suas mentiras e as suas verdades agem sobre a conduta das populações. A prova de que o discurso político solta efeitos imitativos que se reproduzem como as imagens em espelhos paralelos, efeitos que se propagam e expandem em progressão geométrica. Nada de pior poderia acontecer, no momento em que do outro lado do Atlântico uma figura como Donald Trump anda à solta pelas pradarias dos Estados Unidos, ateando o ódio. É caso para reflectirmos, para percebermos quem somos e em que lugar nos encontramos.

Os portugueses não são nem racistas nem xenófobos, ou pelo menos não o são numa escala percetível que nos coloque entre os povos intolerantes perante a diferença étnica e cultural. O facto de nos adaptarmos a todas as latitudes da Terra, e o termos feito ao longo dos séculos, sem dramatismos, leva-nos a aceitar o reverso, a aceitar no estreito rectângulo onde vivemos, pessoas provenientes de todas as latitudes e todas as culturas. O Algarve, como se sabe, no sul desse rectângulo, funciona como uma espécie de resultado de todas as somas dessa cultura, mais do que tolerante, pacífica. Podemos ter muitos defeitos, mas o convívio de igual para igual é a nossa marca de água local. Por outro lado, a comunidade britânica residente, à exceção de esporádicas manifestações de altivez, acessos de arrogância imperialista que por vezes acontecem, vive e convive entre nós, respeitando-nos, compreendendo-nos, trocando connosco o que têm de melhor. São bons visitantes que escolheram a nossa terra como segunda pátria. Bem-vindos sejam. Neste momento, porém, o que se desenha no horizonte não está ausente de nuvens. A descida da libra, e todas as alterações que se avizinham, pode criar dificuldades aos britânicos e consequências para nós. Por eles e por nós, devemos estar preparados. Porém, se algum estremecimento vier a ocorrer, que ele nunca provenha de ressentimentos, vingança xenófoba, incompreensão pelas diferenças. Os motivos que levaram os britânicos a votarem o Brexit não serão por certo aqueles que moverão a população do Algarve eventualmente afetada. Na nossa região, por certo, por nossa vontade, sentimento, e conveniência, nunca haverá Algarvexit. Essa palavra não existe no nosso dicionário latino. Mas que sejam os próprios ingleses residentes na região ou passantes, a concluir que a lição não é apenas para inglês ver.

Flagrante miopia: Depois dos fracos e escassos resultados de Faro Capital da Cultura e da tontearia do Allgarve, um terceiro programa que se anuncia como que caído das nuvens, sem se ouvir ninguém e como que outorga do poder central como se a Cultura tivesse que ter sazonalidade, sugere todos os elementos para falhar. Insiste-se na muita parra e pouca uva. As instituições e pessoas de referência da região deviam ter sido ouvidas. Assunto para desenvolver.
Carlos Albino

 

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