SMS: Governo neste teste, desnecessariamente

Um Governo, como é óbvio em democracia e condição desta, está em permanente teste. Mas há sinal de que as coisas derrapam, quando é o Governo a testar os testadores. E depois da devastação causada por erros e omissões do anterior governo, mau sinal é quando o poder central se presta a fazer testes à paciência designadamente dos seus apoiantes declarados e afins. No Algarve, depois de meses com promessas de redução em 50 por cento das portagens da Via do Infante, eis que a região sofreu o maior aumento dessas taxas; depois da chuva de críticas quanto à política cultural que reduziu a política a zero e a cultura a 45 graus negativos, eis que se volta a confundir cultura com animação, adiando a esperança numa Política Cultural numa região onde, pelas suas características e contributos mais que nenhuma outra, esta mesma política devia ser o instrumento prioritário; com a descentralização de competências altamente sensíveis do Estado para os municípios, em vez de se atender às características de área metropolitana que a região tem e deveria potenciar (insistimos nisto, aqui, há anos, não é de agora), insiste-se no reforço dos quintais, cada qual a transformar-se em cómico “terreiro do paço” insuportável e asfixiante, quer em burocracia quer em competência, ouvindo-se um ou outro administrante e, pelo que consta, nenhum administrado. Etc.. Mas antes deste etc. terminar, chegamos ao petróleo, e eis que, sem a disponibilização de explicação coerente, fundamentada e esclarecedora, decide-se de surpresa furar ao largo de Aljezur depois de uma consulta pública que, à cabeça, requeria tal explicação.

Isto que, depois da Alemanha estabelecer 2030 como o fim dos automóveis tal como os conhecemos hoje, parece uma aposta serôdia nos combustíveis fósseis, a coincidir com o objetivo traçado pelo governo da Noruega em antecipar decisão idêntica de acabar com a compra e venda de automóveis a diesel e a gasolina a partir já de 2025. A Noruega é produtora de petróleo (40 % do PIB) mas parece ter chegado a conclusões bastantes com a crise que o setor atravessou entre 2014 e 2016 pela queda abissal do preço do crude, conclusões somadas aos objetivos dos Acordos de Paris para a redução das emissões em 40 % até 2030. Quando já se entra na era pós-petróleo, Portugal fura Aljezur, como se o destino de Aljezur fosse o de um tubo de escape, sem se saber bem por que causa, com que fundamento e para que teste.

Não se trata aqui de dissertar sobre petróleo, mas sim sobre fundamentos da decisão, quais as bases de coerência e para que servem os procedimentos que a antecedem ou que a devem anteceder, designadamente uma consulta pública que não seja verbo de encher ou entretenimento da opinião. Que estudos há? Quais as garantias de segurança? Quais as vantagens e desvantagens? Quais os impactos? A estas perguntas, quem decide não respondeu com suficiência, com coerência e com clareza. E quanto aos geólogos em serviço, é oportuno dizer que o geólogo é aquele que calcula bem o epicentro depois disso acontecer. Antes disso, andam à tangente.

Flagrante efeito de boomerang: Em defesa da dita descentralização, dizem alguns autarcas que “são escrutinados” mais do que ninguém. Num Algarve, com o grave e iniludível problema de comunicação que tem (sem televisão, sem rádio e sem jornais com meios de produção próprios e atempados), esses autarcas têm inteira razão – são escrutinados pelos departamentos de comunicação e imagem das câmaras que dirigem. E ai de quem escrutina fora disso.
Carlos Albino

 

Deixe um comentário

Exclusivos

Algarve comemora em grande os 50 anos do 25 de Abril

Para assinalar esta data, os concelhos algarvios prepararam uma programação muito diversificada, destacando-se exposições,...

Veículos TVDE proibidos de circular na baixa de Albufeira

Paolo Funassi, coordenador da concelhia do partido ADN - Alternativa Democrática Nacional, de Albufeira,...

Professor Horta Correia é referência internacional em Urbanismo e História de Arte

Pedro Pires, técnico superior na Câmara Municipal de Castro Marim e membro do Centro...

O legado do jornal regional que vai além fronteiras

No sábado passado, dia 30 de março, o JORNAL do ALGARVE comemorou o seu...

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.