SMS: As verdades dos outros são muito cómodas…

Opinião de Carlos Albino

Sobre as coisas que direta ou indiretamente a todos dizem respeito, já é tradição esconder ou dizer apenas a parte que nos interessa, caminhando-se alegremente para a sabida fórmula final do “todos ao molho e fé em Deus” ou do “cada um que se governe”.

Vem isto a propósito da avaliação do Turismo agora feita e divulgada em Espanha, designadamente a face oculta desse setor-chave em qualquer país que precise de dinheiro em circulação e investimento. A face visível é a que, também em todos os países, é fornecida pelos canais oficiais e pelas correias de transmissão dos interessados. A face oculta é como o outro lado da Lua – sabemos que existe, mas não se mostra e até talvez convenha que a Lua não faça rotação.

Um relatório das duas organizações sindicais espanholas maioritárias no setor do Turismo (CCOO e UGT) acaba de fazer um retrato nada recomendável da face oculta dessa atividade emblemática da recuperação económica de Espanha. Basta referir que até agosto, o turismo espanhol superava os 50 milhões de visitantes estrangeiros, quase 8% mais que no mesmo período de 2015.

Então, qué pasa? Passa-se fraude generalizada à segurança social, horas extraordinárias jamais pagas, precariedade laboral recorde, falsos trabalhadores independentes… Que o emprego turístico que está a ser criado é precário, a tempo parcial e em muitos casos fraudulento. Que os dados oficiais não correspondem com o emprego declarado porque se trabalha mais horas que as contratadas – denunciam os sindicatos uma enorme taxa de horas extras não declaradas representando 20% do total, o que configura uma situação negra e oculta. Que pela precariedade extrema, proliferaram os contratos através de empresas multiserviços, pelo que as remunerações são uns 30% menores que os garantidos pelos acordos setoriais. Que as atuais condições laborais do turismo espanhol são frágeis, de alta volatilidade e e curto prazo, afetando mais os jovens e as mulheres. Além disso que a administração não combate a economia subterrânea, designadamente na atividade não regulamentada do aluguer turístico.

Ora muito bem, isto é em Espanha, nós por cá nada disso. As verdades dos outros são muito cómodas para quem esconde ou dissimula as próprias verdades, ou então as selecciona conforme as conveniências. Todos ao molho e fé em Deus.

Flagrante equívoco: Julgava, até há dois dias, que o grande volume de investimentos no Algarve, sobretudo na imobiliária, corria pelos offshores e que as sedes financeiras dos que operam mais significativamente no Algarve não têm cá pé, pelo que tanto faz o imposto ser assim ou assado. Por isso mesmo, julgava até há dois dias, que uma espécie de sociedade paralela de interessados apenas está no Algarve como preparo para entrada no paraíso fiscal. Puro equívoco, puro engano! Afinal, os investimentos, as sedes financeiras e a tal sociedade paralela tanto que têm pé que até perdem o pé.

Carlos Albino

 

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