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Um “Dia do Município” muito pouco municipal

 

Falemos claro. A Câmara Municipal da minha terra comemora o Dia do Município (hoje, 14 de maio) e, pelo convite que me dirigiu, tem como ponto principal uma “homenagem aos militares falecidos na Guerra do Ultramar”. Julgava eu que tinha havido uma Guerra Colonial, e que o ideário e a terminologia da ditadura fascista tinham perdido definitivamente essa guerra. Guerra do Ultramar foi a designação oficial portuguesa do conflito até à revolução de 25 de Abril (Guerra da Libertação, para os Estados Africanos, e Guerra de África para satisfazer a todos os que não ousavam demarcar-se).

A Câmara de Loulé, pelos vistos e como se isto fosse já Santa Comba Dão, conserva a designação oficial usada pela ditadura que, através dos seus serviços de censura, proibia a designação escrita ou dita de Guerra Colonial. Portanto, o Dia do Município da minha terra é o Dia da Guerra do Ultramar. Podia a Câmara, naturalmente, fazer uma homenagem aos Empresários Vivos do Concelho, uma homenagem aos Escritores Oriundos, aos Desempregados Meio-mortos, aos Professores Atentos, aos Médicos que Não Enriquecem Sem Justa Causa, ou até uma homenagem aos Detentores de Vistos Gold, mas Guerra do Ultramar quando o ultramar de Loulé é o do peixinho e marisco fresco de Quarteira?

Além disso, desculpem-me lá os homens vivos do Núcleo de Loulé da Liga dos Combatentes que muito respeito, o que é demais não presta, perde o sentido e é uma inútil volta à parada a toque de caixa húmida e cornetim entupido, até porque falecidos não diz bem o que aconteceu – há mortos, matados e morridos. Os militares falecidos seja onde for, apenas se homenageiam com a Verdade, e não com aquelas nostalgias que são um cancro em estado terminal ou com aquele ânimo leve que é a hepatite C da política. Está longe de ser homenagem aos falecidos, servirmo-nos deles para levar a água ao moinho, independentemente de terem sido mortos, matados ou morridos.

 

Flagrante insistência: Já o disse ao presidente da Câmara e ao presidente do Núcleo de Loulé da Liga dos Combatentes, vai para um ano e sem pronta correção até hoje, que, num bizarro e patético “monumento” aos combatentes, mais bizarro ainda se ousarem colocar soldados com metralhadoras como se isto fosse o Irão, a frase lá colocada e declaradamente extraída de “Os Lusíadas” é um absoluto desrespeito por Camões. Está lá escrito: “Ditosa a Pátria que tais filhos tem”, com o nome do Poeta Nacional a subscrever. Ora o que Camões redigiu no Canto VIII, estrofe 32, 5.º verso, foi: “Ditosa Pátria que tal filho teve!”, referindo-se a Nuno Álvares Pereira e ponto final. Será exigir-se muito ou demais que a arquitetura da câmara ou o presidente do núcleo reescrevam “Os Lusíadas” ou corrijam Camões por alguma conveniência que faça da Pátria uma desditosa. Além disso, quem cometeu essa calinada monumental, se for ao concurso da Manuela Moura Guedes, perde.

Carlos Albino

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1 COMENTÁRIO

  1. Antes de mais um conceito: os partidos são simples somatórios de pessoas e não mais do que isso; mas há limites e por muito grandes que sejam esses limites, sejam os limites dos partidos sejam os limites dos con(S)elhos há sempre limites para tudo, e haverá sempre algum flagrante que seja O Indesejável

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