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Identidade do Algarve

 

 

Não é difícil concluir que a identidade do Algarve é o segredo mais mal guardado da Europa… A questão da identidade coloca-se a várias escalas e níveis, e por assim dizer, se o Algarve tinha outrora um já obsoleto Bilhete de Identidade, está hoje longe de possuir o moderno Cartão de Cidadão. Falo por metáfora, claro. O Algarve foi invocadamente, por séculos, um Reino, mas sem instituições de reino – mero título de monarcas e mera legenda de mapas. Por isso mesmo, tal título nunca até hoje teve sequenciação desde a República de 1910. Foi sendo Província, Distrito e até, por exagero e falta de pudor, Região, mas como província nunca foi institucionalmente provincial (esteve sempre num dos últimos degraus do provincianismo português), como distrito esteve sempre adstrito ao poder central de Lisboa (o chamado governo civil foi sempre um bispado laico com sacristia política primeiro no partido único da Ditadura, depois, em Democracia, no partido dominante), e como Região não passou, nem passa da geografia e mesmo esta, no que toca a “identidade geográfica” já está em crise. Muito do Algarve já é comandado em Sines e em Évora. A Região Piloto nunca se concretizou, ou por falta de pilotos com roda do leme para a Região (o que tem sido um facto), ou por excesso de pilotos cada um com seu leme mas sem navio (o que levou a veleidade da região ao absurdo).

Claro que depois de tudo isto, há alguma coisa. Há uma RTA que é mera secção, sem alma, sem asa, sem poder e quase sempre sem saber; há uma CCDR que é mera extensão autocrática e burocrática que representa o que não pode representar autarquicamente falando; há uma AMAL, que apesar das suas asas autárquicas, não decola, como dizem os brasileiros; há direções regionais cuja direção é Lisboa e sujo sentido é concretizar Lisboa lá nas alturas e distribuir migalhas aos provincianos de boa vontade. E pouco mais haverá, para além da Federação Regional dos Bombeiros. Perdão, há ainda o Círculo Eleitoral do Algarve, mas como o Estatuto dos Deputados estipula logo no N.º 1 que “Os Deputados representam todo o País, e não os círculos por que são eleitos”, cada um dos deputados até pode nada fazer ou fazer tudo menos pela província, pelo distrito e pela região, que ninguém lhes pode tocar. Alguns deputados são como o Duque de Loulé: não nasceram na terra, nunca foram à terra, nunca se interessaram pela terra e até combateram a vontade da terra. Outros, nada mais podem fazer do que fazer perguntas, o que já é notícia por si só.

Perante o facto, que não é metáfora, dos eleitores darem a resposta que podem dar com a abstenção e o desinteresse pela causa pública, agora, a identidade do Algarve, tal como as restantes identidades do país, assistem à revoada da “aproximação dos políticos aos eleitores”, da “cidadania participativa” e da “defesa das pessoas”. O sentido de sobrevivência dos que, sejamos claros, traíram a identidade em benefício de carreiras pessoais, leva-os a isso. Não sei se será tarde ou se ainda vem a tempo. Os otimistas dizem que sim. Só que já lá vai um ano sobre últimas autárquicas, e, aqui e ali, vamos verificando cada vez mais que a aproximação aos eleitores, ou é meramente virtual e através de expedientes, ou, pior, que ela só existe até ao momento da conquista do poder.

E é assim que, tudo o que não é autárquico mas falsamente regional, ou, sinónimo, destruidor da identidade algarvia e centralista, centralizador e provinciano (o poder central é a coisa mais provinciana de Portugal), vai tendo asas para voar.

Flagrantes doutores: Segundo parece, em cada canto de emprego público, há um doutor ou uma doutora. Seria de fazer um inquérito sobre quantos sabem escrever uma carta a preceito, redigir um e-mail nas mínimas normas da civilidade, falar ao telefone pelo menos com o antigo nível do português da IV Classe. Já ouvi um que em vez de “sinto-me dedraudado” disse com inteira segurança académica: “sinto-me desfraldado”…

Carlos Albino

 

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