Sistemas de vigilância fazem ‘temer’ o futuro do jornalismo

ouvir notícia

.

A conclusão do Relatório da União Norte-Americana das Liberdades Cívicas (ACLU) é inequívoca: o programa de vigilância dos serviços de informação interfere com a liberdade de imprensa e com a democracia.

Um estudo realizado por especialistas da ACLU diz que os programas de vigilância [criados por Washington] para prevenir tentativas de terrorismo, acabam por minar as condições necessárias ao exercício da liberdade de imprensa, o direito do público a ser informado e o direito de obter ajuda jurídica.

Este diagnóstico da ACLU “faz-nos temer”, disse ao Expresso o jornalista e professor da Universidade Nova de Lisboa, António Granado, acrescentando:”O jornalismo é uma das mais nobres profissões que ajuda a manter a democracia e controlar os outros poderes. Se um poder tem acesso a tudo a que um jornalista faz então a nossa profissão está em perigo”.

- Publicidade -

Espiar todos os passos que um jornalista efetua no exercício da sua atividade levanta um conjunto de questões éticas. Por isso, este relatório chama a atenção para algo importante e que deve ser privilegiado, a confidencialidade.

Se a liberdade de imprensa é afetada, a democracia também se recente. Havendo um sistema de vigilância que entra dentro de computadores, põe-se em causa dois segredos profissionais de uma só vez: o dos jornalistas e o dos advogados.

Não é de admirar que certos jornalistas “voltem a recorrer a técnicas arrevesadas que lhe permitam camuflar as suas comunicações”, refere o relatório. “Alguns passaram a suar telefones pré-pagos ou a evitar totalmente a internet”, acrescenta.

Oito processos penais contra fontes de informação

O relatório denúncia invasões à privacidade como casos de escutas aos telefones de jornalistas, advogados e até atuais responsáveis governamentais. De acordo com este relatório “estes problemas verificam-se mesmo quando estão em causa temas não confidenciais”.

Com esta vigilância apertada aos serviços de informação o direito ao segredo das fontes é “violado”. O que condiciona o trabalho do jornalista e do advogado: “Uma vez com a informação entre mãos, o profissional utiliza-a para escrever um artigo e não para ser um colaborador involuntário das autoridades”, lamentou António Granado.

Uma realidade que não passa despercebida. “Já se realizaram oito processos penais contra fontes – durante a presidência de Barack Obama”, explicou Charlie Savage, repórter do jornal New York Times à agência Reuters.

Sem confidencialidade o jornalismo perde fundamento. Recorde-se por exemplo, a fonte conhecida por ‘Garganta Funda’ que levou à queda do presidente dos EUA, Nixon, por corrupção.

O estudo, realizado pela poderosa União norte-americana das liberdades cívicas (ACLU, em inglês) e a organização não governamental de defesa dos direitos humanos, baseia-se em 92 entrevistas a jornalistas (entre os quais estão vencedores do prémio Pulitzer), advogados, antigos e atuais responsáveis governamentais.

RE

- Publicidade -

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.