Revolta socialista contra primeiro-ministro francês

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“O Governo e o Presidente não compreenderam as razões da nossa derrocada nas recentes eleições municipais, vamos contra a parede”. É nestes termos que os parlamentares socialistas contestatários (perto de uma centena, num total de 295) atacam o “plano de estabilidade orçamental” defendido pelo primeiro-ministro, Manuel Valls.

Contestam a perspetiva de congelamento, até 2017, das pensões e dos salários na função pública, bem como as poupanças anunciadas na segurança social e na saúde. Pedem inflexões e garantias antes da sua votação, na próxima terça-feira, na Assembleia Nacional – e ameaçam abster-se e mesmo votar contra ele, nessa altura, no parlamento.

“Grande incoerência”

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“Não faz sentido que o nosso Governo queira ser o bom aluno da austeridade na Europa”, diz Pascal Cherki. Este deputado, cujo país de coração é Portugal, que ama o fado, a gastronomia portuguesa, Lisboa e o Benfica (é sócio do clube da Luz e, apesar de ser francês, também é militante na Federação de Paris do PS português), dá o exemplo das consequências da crise em Portugal, cuja situação conhece bem.

“O ‘totem’ europeu dos 3% de défice tem consequências sociais muito injustas e terríveis em Portugal e noutros países europeus e, em França, assistimos a uma grande incoerência porque nós, socialistas, fazemos campanha para as eleições europeias contra a austeridade na Europa e o nosso Governo defende o contrário!”, exclama.

Michel Sapin, ministro das Finanças, reuniu-se na passada quarta-feira com cerca de uma centena de deputados que lhe pediram “uma inflexão social” e mais igualdade tanto no “plano de estabilidade” como na política de apoio à competitividade das empresas. Mas o ministro garante que não cede nas questões de fundo.

“Há uma coisa que não mudaremos, os grandes equilíbrios e a vontade de dar competitividade às empresas, apesar de podermos estudar a possibilidade de alguma evolução e de fazer um ‘gesto’ a favor das pensões de reforma mais baixas”, afirma.

Se o Governo não recuar, Cherki e muitos outros colegas deputados não excluem “um incidente parlamentar” durante a votação do plano, na próxima terça-feira. Querem que os mais pobres sejam excluídos dos sacrifícios, pedem aumentos das pensões e dos salários mais baixos e exigem “mais abertura social” a Sapin e a Manuel Valls.

Hollande vaiado

Pascal Cherki demonstra desilusão com o Governo dirigido pelo francês de origem catalã, que ele considera demasiado à direita. Nos últimos dias, o deputado residente em Montparnasse, no bairro número 14 de Paris, apenas teve duas grandes alegrias para compensar os contratempos com que se defronta na política francesa – a vitória do Benfica contra o Porto (à qual assistiu no estádio da Luz) e a conquista do campeonato português pelo seu clube favorito.

Entretanto, o Governo reafirma com firmeza o objetivo de atingir a barra dos 3% de défice no fim de 2015.

Aposta em hipóteses claramente otimistas de crescimento económico – 1% em 2014, 1,7% em 2015 e 2,25% em 2016 e 2017. E aponta igualmente para a criação de perto de 500 mil empregos até ao fim do mandato, daqui a três anos, de François Hollande, um presidente impopular que foi vaiado nesta quarta-feira, durante uma visita a Carmaux, bastião socialista e de Jean Jaurés, uma das referencias históricas máximas dos socialistas franceses.

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