Porto de Faro perde metade do movimento

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A atividade marítimo-turística é apontada como solução para aproveitar as potencialidades da infraestrutura. Comunistas já levaram o caso ao parlamento, não se opõe à readaptação, mas alertam que será um erro acabar com a atividade comercial

DOMINGOS VIEGAS

O movimento de mercadorias no porto comercial de Faro caiu cerca de 45 por cento nos primeiros nove meses deste ano, e em relação ao mesmo período do ano passado, uma situação que coincide com o encerramento da fábrica da Cimpor, de Loulé, uma das principais utilizadoras daquela infraestrutura portuária.

Segundo os dados da Autoridade de Mobilidade e Transportes sobre o movimento naquele porto comercial, nos últimos anos, e além do cimento produzido na Cimpor, que se destinava principalmente aos portos do norte de África, as principais cargas movimentadas em Faro foram sal-gema, sal para consumo humano, alfarroba, madeira e pescado.

O sal-gema é proveniente da mina de Loulé e destina-se a portos do norte da Europa, enquanto o sal de consumo humano é importado e exportado pelas empresas Salexpor e Vatel, sedeadas em Olhão. Por seu turno, as vagens de alfarroba trituradas são exportadas para a Grã-Bretanha, enquanto as madeiras têm origem na produção florestal do sul do país e o pescado vem das unidades de aquicultura da região. Estes dois últimos produtos têm como destino diversos portos internacionais.

No passado mês de julho, o PCP, através do deputado Paulo Sá, já tinha alertado o Governo que o impacto da suspensão da produção da fábrica da Cimpor não se resumia ao concelho de Loulé, mas estava a ser muito mais vasto, inclusivamente a nível regional, já que afetava “diversas atividades, como por exemplo a movimentação de cargas a partir do porto comercial de Faro”.

Agora, e depois de ter ficado a conhecer aqueles dados da Autoridade de Mobilidade e Transportes, Paulo Sá voltou a questionar o Governo sobre as intenções e medidas a tomar em relação à infraestrutura.

“O Porto Comercial de Faro, apesar das dificuldades conjunturais resultantes da suspensão de atividade da fábrica de cimento de Loulé, possui grandes potencialidades que não podem ser desperdiçadas. Ao invés, devem ser exploradas e colocadas ao serviço do desenvolvimento da economia algarvia”, defende o parlamentar.

Aquela infraestrutura portuária é constituída por duas áreas. Uma é o denominado Terminal Multiusos, que corresponde à atual zona vedada, e outra é a denominada Área de Reserva Portuária, que corresponde à restante área, incluindo o seu acesso rodoviário, cujos terraplenos se destinam a “novas utilizações portuárias” ou “à proteção das atividades e das infraestruturas portuárias nela realizadas”.

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O porto possui um cais com 200 metros e uma ponte-cais, podendo receber navios até 120 metros de comprimento, com 7.500 toneladas de porte bruto e 6,4 metros de calado. O cais comercial tem uma capacidade de armazenagem coberta de 3 500 m2 e está equipado com três guindaste eléctricos de via, com capacidade até 12 toneladas.

E tem ainda “uma localização geográfica privilegiada para a movimentação de cargas ao serviço da economia regional”, defende Paulo Sá, que questionou o ministro do Planeamento e das Infraestruturas sobre quais as medidas que serão adotadas para que as potencialidades daquele porto comercial sejam plenamente exploradas.

PCP quer medidas para desenvolver o setor produtivo

No mesmo sentido, o parlamentar comunista defende a necessidade de serem implementadas medidas que visem a diversificação da atividade económica no Algarve, designadamente ao nível dos setores produtivos, e a sua articulação com a valorização e aproveitamento do porto comercial de Faro.

Num passado recente, chegou a ser proposta a afetação do porto à náutica de recreio e, há vários anos, um operador privado chegou a solicitar a atribuição de uma parcela, que incluía zonas na frente sul do terrapleno, para a instalação de um estaleiro de reparação naval, alojamentos, zona comercial, parqueamento a seco de embarcações de recreio e uma escola de náutica de recreio.

“Este projeto, se tivesse sido concretizado, inviabilizaria a manutenção da valência comercial, por conflituar com as atividades portuárias de carga e passageiros” e implicaria “o encerramento de uma importante infraestrutura portuária da região algarvia”, recorda Paulo Sá.

Presidente da Câmara defende reconversão

Entretanto, o presidente da Câmara Municipal de Faro, Rogério Bacalhau, voltou a defender que a utilização daquela zona dever ser repensada e que devem ser encontradas alternativas, apontando mesmo as atividades marítimo-turísticas como solução.

Na última semana, e em declarações a vários órgãos de comunicação, o autarca frisou ainda que o ideal seria compatibilizar a náutica e a atividade comercial. Porém, também defendeu que, no caso de o movimento comercial não justificar esse tipo de utilização, torna-se fundamental avançar para uma outra solução que garanta o aproveitamento das potencialidades da zona e a criação e manutenção de postos de trabalho.

No documento enviado ao Governo, o deputado Paulo Sá explica que o PCP não se opõe à instalação de infraestruturas de apoio à náutica de recreio, mas defende que, caso avancem, estas “deverão ser equacionadas para a zona a norte do terrapleno”, beneficiando de “uma maior proximidade à cidade” e de “um plano de água mais tranquilo”, enquanto toda a frente sul do terrapleno “deverá manter-se afeta exclusivamente à atividade comercial”, ou seja, carga e passageiros.

Mas a situação do porto de Faro já tinha sido levada ao Parlamento, este ano, quando o deputado social democrata Cristóvão Norte, em meados de fevereiro, recordou ao Governo a “importância de intervir” na infraestrutura.

“O Algarve sofre com a sazonalidade e as infraestruturas portuárias podem emprestar alguma diversificação económica e reforçar a robustez do tecido económico e social”, referiu na altura o parlamentar, defendendo ainda que “é há muito imprescindível” o lançamento de um concurso para o novo porto de recreio, infraestrutura que considerou “elemento decisivo” para reforçar a competitividade da cidade.

(Reportagem publicada na edição impressa do Jornal do Algarve de 24 de novembro)

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