Pedro Passos Coelho reúne-se na manhã desta terça-feira com a Comissão Permanente do PSD e só depois disso se saberá se a direita avança ou não com uma moção de rejeição do programa de Governo do PS. Paulo Portas tem luz verde da direção do CDS para tratar do assunto e já falou com Passos, mas aguarda que os sociais-democratas decidam. Nos bastidores correm várias hipóteses, entre elas a de ser o CDS a avançar.
Entre os dirigentes da maioria, o assunto não é inteiramente consensual. Há quem considere quase obrigatório apresentarem uma moção de rejeição ao Executivo de António Costa pelo simples facto de o terem classificado de “politicamente ilegítimo”. Mas também há quem ache um erro estar a oferecer de bandeja à esquerda mais uma oportunidade de provar estar unida no apoio ao novo Governo.
Quinze dias depois de terem apeado o PSD e o CDS do poder, socialistas, comunistas e bloquistas voltariam a legitimar pelo voto a sua alternativa, desta vez ao chumbarem uma moção de rejeição do novo Executivo.
Há quem considere quase obrigatório apresentar uma moção de rejeição. Mas também há quem ache um erro oferecer à esquerda mais uma oportunidade de provar estar unida
“Seria mais uma derrota para nós”, ouviu o Expresso a um dirigente centrista, atento aos riscos de radicalizarem mais o confronto: “Quanto mais radicalizamos, mais eles se juntam”. Um vice-presidente do PSD segue a mesma lógica: “Interessa-nos é exibir as divisões entre eles (PS, PCP e BE)” e sugere mesmo que o mais acertado seria “forçá-los a provarem, com uma moção de confiança, que podem garantir a estabilidade do seu Governo”.
Essa foi, aliás, uma das condições colocadas por Cavaco Silva a António Costa – a de que garantia a aprovação de eventuais moções de confiança. Sábado passado, em entrevista ao Expresso, Jerónimo de Sousa deu essa certeza, na versão que politicamente mais convém ao PCP, dizendo que nunca a direita poderá contar com os votos dos comunistas para viabilizar moções de rejeição do Executivo.
É neste contexto que Passos e Portas terão que decidir. Ao que o Expresso apurou, o líder do CDS tem alertado para os riscos de, caso não avancem para a rejeição, isso ser usado por António Costa para apontar o dedo à direita acusando-a de ter desistido. E de, ao desistir, sinalizar já não ter dúvidas da consistência e estabilidade da maioria parlamentar à esquerda. “Depois de termos deixado correr a notícia da moção de rejeição, agora, se recuarmos, é fácil perceber o que dirá Costa”, afirma fonte próxima de Portas. E há na Comissão Permanente do PSD quem subscreva integralmente esta tese.
Domingo à noite, na SIC, o ex-líder do partido Luís Marques Mendes falou como se não houvesse outra saída: “Depois de tudo quanto disseram, uma moção de rejeição será, além de simbólico, um ato de coerência. Não apresentar, é um recuo e sinal de fraqueza”, justificou. “Caso contrário, António Costa dirá sempre: ‘vocês até deixaram passar este Governo’”.
Absolutamente consensual no PSD e no CDS é a certeza que o debate do programa do Governo terá que ser um momento de frontal oposição por parte das bancadas da direita
Mas ainda não é certo que Passos Coelho saia esta manhã da reunião da Comissão Permanente do seu partido decidido a escolher este caminho. Na direção parlamentar do PSD garantem que a decisão não está fechada e alertam mesmo para a inconsequência de uma moção de rejeição que se sabe, à partida, ir ser chumbada. Este é o negativo do raciocínio de Marques Mendes: “Costa dirá sempre: eu derrubei o vosso Governo mas não conseguiram derrubar o meu. Se tinham dúvidas sobre quem tem uma solução mais estável, têm aqui a prova”.
Absolutamente consensual no PSD e no CDS é a certeza de que o debate do programa do Governo, esta quarta e quinta-feira, no Parlamento, terá que ser um momento de frontal oposição por parte das bancadas da direita. As semelhanças com o passado de José Sócrates continuam presentes no argumentário da ex-maioria: “Costa foi buscar ministros de Sócrates, volta ao facilitismo de Sócrates e volta a pôr o país em risco”, afirma um dirigente da bancada parlamentar do PSD.
Na calha para o ataque a Costa está a carta que este enviou a Cavaco Silva antes de o Presidente lhe dar posse. “Ninguém conhece a carta e é altura do primeiro-ministro explicar que respostas deu às perguntas do PR”. Uma delas, recorde-se, era sobre a fidelidade aos compromissos de Portugal com as regras da zona euro. Não há tema melhor para tentar explorar as zonas de atrito entre Costa e os parceiros.
Ângela Silva (Rede Expresso)