Polónia deixa Putin fora “do último grande aniversário” da libertação de Auschwitz

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Portão da entrada de Auschwitz, mais conhecido por Portão da Morte. Na inscrição lê-se a divisa nazi: O trabalho liberta

Será que Halina Birienbaum vai reparar que Vladimir Putin não está sentado junto dos chefes de Estado que esta tarde vão ouvir o seu discurso em Auschwitz? Ou será que não vai dar pela ausência do homem que representa a memória da velha União Soviética e do exército que correu com os nazis de Auschwitz? Ninguém sabe o que irá verdadeiramente passar pela cabeça da escritora Halina Birienbaum pelas 15h30 [14h30 de Lisboa] quando começar a usar da palavra para evocar o 70º aniversário do início da libertação.

Mas uma coisa é certa: Putin não vai assistir à celebração porque não foi convidado pelo Presidente polaco, apesar do facto ser diplomaticamente sensível.

O dia 27 de janeiro faz parte do calendário anual, mas as evocações da libertação de Auschwitz, com grande visibilidade, só acontecem de 10 em 10 anos. E esta é provavelmente a última grande celebração onde participam sobreviventes dos campos de concentração nazis, já que atualmente a grande maioria tem mais de 85 anos.

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Putin esteve em Auschwitz nas celebrações dos 60º aniversário da libertação do campo, e isso prova que o dia 27 de janeiro tem uma carga simbólica para ele e para a Rússia. Há duas semanas, disse que não iria a Auschwitz [a 40 km de Cracóvia] porque não tinha sido convidado pelas autoridades polacas para assistir aos 70 anos da libertação do campo pelo Exército Vermelho.

As explicações para justificar a ausência do presidente russo são contraditórias, mas há uma realidade que paira sobre todas elas: conflito na Ucrânia, país que faz fronteira com a Polónia, e que afastou a Rússia das instituições europeias e dos países ocidentais.

A querela diplomática rebentou a meio de janeiro. No dia 13, o jornal britânico “The Guardian” dizia que “um porta-voz do Kremlin confirmou que Putin não participaria das cerimónias de Auschwitz porque o Governo polaco não o tinha convidado”. O Ministério das Relações Exteriores polaco confirmou que não tinha convidado Putin, acrescentando que Moscovo poderia enviar quem entendesse para estar presente na cerimónia.

Onze dias mais tarde, o diário espanhol “El País” dizia que “ninguém recebeu convites oficiais”, citando Piotr Cywinski, diretor do Museu de Auschwitz-Birkenau: “Entrámos em contacto com as embaixadas dos países e perguntámos se iam enviar uma delegação e quem presidiria. E é claro que a Rússia estava entre os países que foram contactados”.

As comemorações são organizadas pela comissão internacional que administra a zona dos campos, no sul da Polónia. Apesar desta comissão incluir representantes russos, uma viagem de Putin à Polónia iria causar um enorme desconforto ao Governo de Varsóvia, já que a Polónia endureceu a sua atitude em relação à Rússia com o desenrolar do conflito na Ucrânia.

Onze líderes europeus e delegações de 40 países

Um dos momentos mais emocionantes desta terça-feira 27 de janeiro que assinala o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto acontece quando os sobreviventes passarem pelo “Portão da Morte” (o portão do campo) para depositarem flores e acenderem velas em memória das vítimas do holocausto. As velas e as flores vão ser colocadas frente ao muro do bloco 11, conhecido por “Muro da Morte”.

Além dos 300 sobreviventes, assistem à cerimónia 11 líderes europeus, entre os quais Hollande, Merkel e os presidentes da Polónia (país anfitrião), Áustria e Ucrânia. No total estarão presentes representantes de mais de 40 países, incluindo Portugal, representado pelo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães.

O nome de Portugal irá figurar numa placa, descerrada durante as cerimónias, onde constam os nomes dos países que apoiam a preservação das instalações do antigo campo de concentração e extermínio. “O 70.º aniversário não será igual aos anteriores grandes aniversários. Temos de dizer de forma clara: é o último grande aniversário que podemos comemorar com a presença de um grande grupo de sobreviventes. As suas vozes tornaram-se no mais importante aviso contra a capacidade humana para a extrema humilhação, desprezo e genocídio”, afirmou Piotr Cywinski, diretor do Memorial Auschwitz.

Entre 1940 e 1945 terão perdido a vida neste complexo de campos no sul da Polónia mais de 1,1 milhões de pessoas. A maior parte era judeus, mas outros eram cidadãos polacos, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos e de outras nacionalidades. A Lusa recorda que os “nazis iniciaram a evacuação de Auschwitz a 17 de janeiro de 1945, quando estariam no campo de concentração cerca de 56 mil prisioneiros. Entre nove a 15 mil pessoas terão morrido durante as ‘Marchas da Morte’ da evacuação”.

No dia 27 de janeiro de 1945, o complexo de concentração e de extermínio de Auschwitz-Birkenau foi libertado pelas forças do exército soviético. O museu de Auschwitz-Birkenau foi inaugurado em 1947 nas instalações do antigo campo de concentração, declarado Património da Humanidade da Unesco em 1979.

Este campo é um dos principais símbolos do Holocausto e recebe cerca de 1,5 milhões de visitantes por ano. Em dezembro de 2009, roubaram o letreiro do “Portão da Morte”, que tinha a inscrição “Arbeit Macht Frei” (“O trabalho liberta”). As autoridades polacas prenderam três dos cinco envolvidos no roubo e recuperaram a inscrição, mas partida em três partes. O letreiro foi posteriormente devolvido ao Museu de Auschwitz.

A homenagem evocativa do 70º aniversário começa esta tarde às 14h30 de Lisboa, com o discurso de Halina Birienbaum. Em seguida fala Kazimierz Albin, 92 anos, autor do livro “Warrant of Arrest” e, depois dele, Roman Kent, 86 anos. Nasceram os três na Polónia e passaram parte da sua juventude no campo de concentração de Auschwitz.

RE

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