“Os melhores peixes do mundo estão aqui”

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José Domingos tem vindo a arrecadar vários prémios desde 2008, quando venceu um torneio internacional ao pescar um pargo de 14,8 quilos

Há séculos incontáveis que os homens são atraídos pela pesca no Algarve, não só como fonte de sustento, mas também de prazer. Esta semana, o JORNAL DO ALGARVE falou com o algarvio José Domingos, que integra a equipa campeã nacional de pesca grossa, sobre um dos maiores tesouros da região: o peixe. O pescador alinha com aqueles que defendem que “os melhores peixes do mundo” estão na costa algarvia e explica porquê…

 

O dia amanhece solarengo ao largo da Carrapateira, no concelho de Aljezur. A oito milhas (cerca de doze quilómetros) da costa, o campeão nacional de pesca grossa por equipas, o algarvio José Domingos, está pronto para o “jogo” a bordo de uma pequena embarcação: este mestre domador de paciência pega na cana e lança o isco ao mar na esperança de fisgar um pargo. Depois de alguns minutos a contemplar a beleza da paisagem – mas sempre atento ao que acontece na água – este comerciante de profissão, de 50 anos, natural da aldeia de Almádena, no concelho de Lagos, é surpreendido por uma série de saltos. Com muita destreza e alguma força, José Domingos consegue apanhar um “monstro” de 15 quilos.

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Para o pescador algarvio, esta atividade não é só um hobby, mas também uma forma de passar pela vida. Tudo começou aos 14 anos, quando começou a ir à pesca com um amigo mais experiente nas rochas na costa sul. Já adulto, começou a aventurar-se na costa norte, nas perigosas falésias de Vila do Bispo e Aljezur, incluindo nos pesqueiros mais arriscados, conhecidos pelos pescadores como “Caixões”, “Moreador da Escada” e “Caneiros do Murração”, entre outros.

Anos mais tarde, José Domingos conheceu o amigo Carlos Cruz e começou a pescar numa embarcação e a participar nos torneios de pesca. Logo a seguir, conheceu Carlos Glória, atual colega de equipa, com quem iniciou a aventura na pesca grossa, com excelentes resultados.

Entre as “pescarias inesquecíveis” deste campeão estão a captura de um atum com mais de 200 quilos (na imagem), um cherne com 68 quilos e um safio com 38 quilos

Dez anos a arrecadar prémios

Como referimos, José Domingos conquistou recentemente o título de campeão nacional de pesca grossa por equipas, atribuído pela Federação Portuguesa de Pesca Desportiva e de Alto Mar (FPPDAM). A prova realizou-se em Lagos, em agosto de 2017, com o pescador algarvio e a sua equipa “Albatroz” (Carlos Glória, Nuno Ferreira, Jorge Sousa e Francisco Cruz) a capturar 13 espadins brancos, que foram posteriormente libertados. Com este resultado, a equipa algarvia ficou apurada para o campeonato do mundo e para outras provas internacionais.

No entanto, “infelizmente, não participaremos em nenhuma destas provas, uma vez que implica custos muitos elevados (deslocação, estadia e inscrição nas provas, incluindo o aluguer das embarcações)”, lamenta José Domingos, que tem vindo a arrecadar vários prémios internacionais desde que venceu, em 2008, o 1º Torneio Internacional de Jigging de Pesca ao Pargo, em Lagos. Nesse torneio, realizado há uma década, o pescador algarvio recebeu ainda o prémio de maior exemplar, com um pargo de quase 15 quilos.

O algarvio conquistou recentemente o título de campeão nacional de pesca grossa por equipas, atribuído pela Federação Portuguesa de Pesca Desportiva e de Alto Mar

“O prazer de comer um bom peixinho”

Apesar das dificuldades, José Domingos deseja continuar a participar em eventos de pesca desportiva “e, claro, continuar a capturar grandes exemplares”.

O maior peixe que este amante da pesca capturou até hoje foi um espadim azul, “com cerca de 300 quilos”, ao largo de Sagres. “Esta pesca foi difícil, porque este peixe deu luta durante cerca de meia hora. Tive mesmo de utilizar pela primeira vez a denominada ‘cadeira de combate’. Houve muita adrenalina a bordo, aliada a uma grande satisfação pelo feito, uma vez que foi uma captura extraordinária”, realça, frisando que “este peixe foi depois libertado”.

Entre as “pescarias inesquecíveis” deste campeão nacional de pesca grossa estão ainda a captura de “um atum com mais de 200 quilos, um cherne com 68 quilos e um safio com 38 quilos”, entre muitos outros grandes exemplares, todos documentados através de imagens e fotografias.

O segredo, conta José Domingos ao JORNAL DO ALGARVE, é “o empenho e a dedicação, aliado ao gosto pela luta que um peixe pode dar e o prazer de comer um bom peixinho”. Entre os seus preferidos no prato estão o cherne, a corvina, o sargo-veado e o carapau.

“O melhor peixe do mundo”

O pescador desportivo alinha com aqueles que defendem que “o melhor peixe do mundo é português” e explica porquê: “A nossa região ainda dispõe de autênticos paraísos ambientais para a prática da pesca, como a Costa Vicentina, onde as águas estão impecáveis, apesar de agora se falar muito do risco da exploração de petróleo no local.”

Por isso, acentua, “em mais nenhum local encontramos sargos tão saborosos como os da Costa Vicentina, nem sardinhas tão suculentas como as de Olhão”.

Em suma, José Domingos sublinha que a costa algarvia preserva uma “enorme riqueza” e o mar algarvio um dos maiores tesouros do país: “o melhor peixe do mundo”.

O maior peixe que este amante da pesca capturou até hoje foi um espadim azul com cerca de 300 quilos, ao largo de Sagres (na imagem)

“Em primeiro lugar a nossa segurança”

Em relação aos seus locais preferidos para pescar, José Domingos gosta da pesca embarcada ao pargo, ao largo da Carrapateira, e, na costa sul, prefere a pesca aos espadins. Mas confessa que também é muito atraído por alguns pesqueiros de difícil acesso nas rochas da costa norte, incluindo “aqueles em que se desce agarrado a cordas ou nos das pedras ilhadas”.

Confrontado com o perigo que os pescadores correm nas falésias algarvias, assim como o elevado número de mortes provocado por quedas das arribas, o pescador admite que o risco existe e nunca deve ser descurado. “Já testemunhei a queda de um pescador de Albufeira, num pesqueiro perto de Sagres, que acabou de forma trágica. Considero que existem pessoas que se colocam em situação perigosa, que arriscam muito, sem necessidade alguma. Em primeiro lugar, deverá sempre vir a nossa segurança e não o correr riscos para chegar ao melhor pesqueiro ou alcançar maior pescado”, refere.

E José Domingos explica, por experiência própria, porque é que estas encostas são muito traiçoeiras: “Os pesqueiros mais arriscados situam-se em falésias com 50 ou 60 metros de altura, onde existem muitas pedras soltas que caem à medida que vamos descendo. E até caem quando já estamos à pesca junto ao mar”, alerta.

“Não há um dia igual ao outro”

Por outro lado, e deixando os riscos da pesca de parte, José Domingos acentua que esta é uma atividade que produz efeitos benéficos para a saúde, proporcionando calma e bem estar, aliviando o stress e a ansiedade. “Enquanto estamos na pesca esquecemos de todos os problemas, stress e trabalho, e desligamo-nos do resto do mundo. O mar e a sua imensidão, o vento, ou seja, o contacto direto com a natureza é interiorizado de tal forma que recarregamos energias”, conta o campeão nacional de pesca grossa, para quem “a pesca é viciante”.

“Na pesca não há um dia igual ao outro e tanto podemos estar lá duas horas e estar constantemente a tirar peixe, como podemos passar 12 horas no mar e não apanhar nada, como já me aconteceu várias vezes”, sublinha José Domingos, rematando, por isso, que “a persistência deve fazer parte da personalidade de qualquer pescador”.

 

(NOTÍCIA PUBLICADA NA ÍNTEGRA NA EDIÇÃO DO JORNAL DO ALGARVE DE 19 DE ABRIL)

Nuno Couto|Jornal do Algarve

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