OPINIÃO: Vai Andando Que Estou Chegando

Opinião de Carlos Figueira

A novela Durão Barroso que tem ocupado nos últimos tampos os diversos médias com repercussões no interior da estrutura da EU, daria um bom guião para uma película que ousasse reproduzir com clareza e coragem os meandros em que se movem políticos e as suas cumplicidades com as grandes instituições financeiras, de construção de armamentos ou as que gerem recursos indispensáveis à vida de hoje, a saber, a exploração e gestão do petróleo e do gás.

Regressando a Barroso, a meu ver, tudo começou na cimeira das Lages, nos Açores, a 16 de Março de 2003. Que juntou com o então primeiro ministro português a servir de recepcionista: George Bush, Tony Blair e José Maria Aznar para decidirem, como se verificou depois, com base em informações fornecidas pelos americanos e não escrutinadas pelos intervenientes, a invasão, quatro dias depois, do Iraque com a morte de Sadan Hussein e com base em tal imponderada actitude lançar um processo de desestabilização de uma área geográfica que hoje se estende a todo o Norte de África, ao Sudoeste Asiático com consequências que se repercutem no seio da Europa.

Passado pouco tempo sobre tão infausto acontecimento Durão Barroso abandona o cargo de primeiro-ministro entregando tais funções a Santana Lopes para entrar, sem qualquer prova dada, para Presidente da Comissão Europeia numa EU dominada pelo centro direita, cargo em que se manteve durante dez anos. Bush viria a ser derrotado nas eleições seguintes por Obama o mesmo acontecendo a Aznar que na sua obsessão com a ETA confundiu os autores do atentado em Atocha, o que teve como consciência, num prazo de 48 horas, perder a confiança maioritária que até ai depositavam nele os espanhóis. Quanto a Blair perdidas que foram as eleições seguinte para a direita conservadora, dedicou-se a bom preço a pregar generalidades em conferências (se é que se podem assim chamar) organizadas a custo de pagamento de favores, somado à actividade de intermediação de negócios.

Aqui chegados, em nada surpreende, à luz de ética e moral que sempre estiveram longe do seu comportamento, que Durão Barroso, sempre vergado perante as decisões da direita europeia, agora saia de Presidente da CE para entrar no conselho de administração do maior banco mundial, a Goldman Sachs, instituição responsável pela crise financeira das chamada dívidas soberanas, com repercussões que se abateram sobre as economias do EUA e da Europa a partir de 2006.

De facto os altos cargos ocupados na estrutura da EU dão lugar a uma porta rotativa de forma a que, quando se sai, já haver lugar destinado ao exercício em grandes instituições financeiras ou outras. Mas, mesmo que assim seja e por demais conhecido, não amnistia a atitude de Durão Barroso porque existem igualmente exemplos em contrário que uma vez saindo se reservaram para ocupações menos gananciosas.

Se Jean-Claude Junker presidente da CE tem ou não moral para aplicar a Durão Barroso o estatuto de lobista ou seja intermediário de negócios retirando-lhe privilégios que poderia auferir pelas funções antes desempenhadas é uma questão irrelevante. Porque estamos em presença de farinha do mesmo saco. Retirar desta decisão conclusões como as de Paulo Rangel deputado do PSD no Parlamento Europeu e vice-presidente do grupo maioritário de direita do Partido Popular Europeu, ao transferir o assunto como um ataque à candidatura a Presidente da ONU por parte António Guterres, pelos cargos que ocupa lá saberá porquê, mas o que se me afigura como mais plausível é uma tentativa de desviar a conversa sobre a actitude de Durão Barroso. Mais o que na minha opinião determina a decisão de Junker é seguramente o forte movimento que espontaneamente se gerou e cresceu, partindo do interior de funcionários da EU, num abaixo assinado que já conta com 100.000 assinaturas e procura chegar à meta dos 150.000.

Carlos Figueira

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