OPINIÃO: Vai Andando Que Estou Chegando

Opinião de Carlos Figueira

Liberdade e Direitos Sociais. Comemoramos esta semana mais um aniversário da libertação de Portugal após uma das mais longuíssimas ditaduras na Europa. Libertação que acabou por ser determinante para a derrota do franquismo em Espanha dois anos depois. O apoio popular manifestado no primeiro momento e expresso nas comemorações do 1º. de Maio em liberdade foram decisivos para que a Constituição, aprovada dois anos depois expressasse até hoje, a natureza, profundidade e alcance dos direitos sociais nela consagrados os quais ainda hoje se mantêm apesar de todas as correlações de forças adversas que os ameaçaram como a todas as distorções que até aqui foram alvos. Refiro-me ao Serviço Nacional de Saúde, à Educação, ao direito à Reforma, à liberdade de opinião, de entre outros.

Mas o 25 de Abril como todas as comemorações ao longo de anos também provocam rotinas ou, como no que aqui me proponho assinalar, desvalorizações ou empobrecimentos na extensão do que foi conquistado.

Por um impulso que me ocorreu este ano, o que nem sempre se repete por motivos de convites ou obrigações institucionais, convidei para um almoço comemorativo da data a minha filha e a pessoa que com ela faz vida conjugal, porque foi ela criança que nos acompanhou em toda a vida, como quadro clandestino membro do PCP, a actuar politicamente no interior do País.

Recordou ela, numa memória que para mim já me escapava, que dias antes do 25 de Abril tinha estado com a mãe a comprar algumas malas no Porto (nós vivíamos na altura numa casa sob um nome e profissão falsos, no litoral entre Valadares e Espinho) porque, como era lógico na circunstâncias em que vivíamos, tinha chegado a idade limite para além da qual não era possível em condições de segurança para todos, ela continuar a viver connosco, o que significava que tanto ela como a irmã que vivia com os meus pais e mesmo que até aí não tivessem qualquer relação, fossem viver as duas para a então União Soviética através de uma complexa operação de que o Partido tinha vasta experiência.

Felizmente o 25 de Abril interrompeu este processo que sendo menos visível no conjunto das conquistas alcançadas, produziu efeitos de reconstituição familiar e afectiva que haveriam de perdurar, malgrado as marcas que continuaram a manifestar-se ao longo da vida futura para cada um dos que a viveram e foram muitos.

Um Presidente feliz. Marcelo numa conjugação de comentador com a do exercício da Presidência transporta felicidade e gosto pelo cargo que ocupa. Estamos desse ponto de vista muito distantes da figura sisuda e zangada, não sei se austera de Cavaco, porque tenho duvidas do despesismo praticado pela dimensão de contratados a justificar posições assumidas constitucionalmente, as últimas das quais quanto à interpretação do respeito constitucional de formação de governos desde que apoiados por uma maioria parlamentar, como foi o caso da formação do actual governo.

Mas, regressando a Marcelo, é tal o seu entusiasmo e felicidade que transparece no exercício do cargo que passados poucos mêses de ocupação do mesmo já admite, contrariamente ao que se tinha comprometido, poder recandidatar-se a novo mandato.

Nada que nos surpreenda na personalidade em questão porque para além das variações de opinião que o caracterizam, nem sempre por boas razões, o exercício do poder tem uma enorme capacidade de atracção e gosto. Na Presidência da República, como Ministro ou mesmo Secretário de Estado, no Poder Local, ou noutro lugar da administração do Estado, desde que tenha alavancas para decidir. Nem sempre é por ambição pessoal. Felizmente neste insólito e cada vez mais despovoado pais de pessoas que pensam para além de si próprias, ainda existem os que se propõem construir um País melhor.

Carlos Figueira

 

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