“Nunca tive qualquer apoio do PSD de Castro Marim”

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Francisco Amaral, o autarca mais antigo da região, ao JA:

Jornal do Algarve – A distrital do PSD confirmou no passado domingo a sua candidatura à Câmara de Castro Marim, depois de um processo atribulado. O que o levou a recandidatar-se à Câmara de Castro Marim?

Francisco Amaral – Foram três anos muito difíceis para todas as câmaras do país, que viram reduzidos para menos de metade os seus orçamentos por causa da nova lei das finanças locais. Essas dificuldades foram sentidas de um modo particular em Castro Marim, com um desemprego avassalador, o que levou a acudir a muitas situações de carências básicas da população. Por outro lado, existiam 57 povoações ainda abastecidas por fontenários de água não potável. No Verão, nem nos fontenários existia água. Muitas estradas e arruamentos degradados. Foi necessário elaborar projetos destas pavimentações e já colocamos água domiciliária potável numa dúzia de povoações. Mandei elaborar projetos de ciclovias, parque de autocaravanismo, praia fluvial de Odeleite, Largo Paco de Lúcia, etc.. Agora, com o Quadro Comunitário de Apoio a iniciar-se, embora com um atraso de dois anos, estamos a lançar as obras. Seria incompreensível deixar este trabalho a meio.

J.A. – E porque acha que a concelhia do PSD o abandonou?
F.A. – Desde que estou no município de Castro Marim nunca notei qualquer apoio da concelhia do PSD. Só abandona quem alguma vez apoiou, o que não é o caso. Aliás, segundo me apercebi, o PSD de Castro Marim é uma pessoa e essa pessoa é o PSD.

J.A. – Está a falar obviamente de José Estevens… Mas não sai mais fragilizado desta decisão?
F.A. – Fragilizado com a desconfiança de quem nunca me apoiou?! Não nos esqueçamos, por exemplo, que o vice-presidente do PSD local ataca-me há dois anos em todas as assembleias municipais. Além de eu ser, desde o início do mandato, alvo de ataques vis e torpes através de cartas anónimas, comunicados anónimos e de perfis falsos no facebook, autêntico terrorismo psicológico e político, que já me custou graves problemas de saúde. O objetivo era amedrontar-me. Comigo funciona como um estímulo. Medo é uma palavra que não existe no meu dicionário.

J.A. – Acha que a decisão da concelhia em indicar José Estevens como candidato do partido – depois de os órgãos distritais e nacionais terem apoiado as recandidaturas dos atuais presidentes – foi uma provocação?
F.A. – Provocação… não me provoca quem quer. Provocação foi para o PSD distrital e nacional. Para mim, foi uma brincadeira de mau gosto que só deixa ficar mal o PSD local e os seus atuais dirigentes.

J.A. – Acha que os militantes de Castro Marim devem abandonar o partido, como aconteceu em Vila do Bispo (os militantes do PS local não aceitam a recandidatura de Adelino Soares e 70% acabou por desfiliar-se)?
F.A. – Os militantes do PSD farão o que a sua consciência lhes disser. Mas não nos devemos esquecer que houve recentemente uma disputa eleitoral em que a lista vencedora teve mais um voto do que a outra. A maioria dos militantes do PSD Castro Marim têm razões para acreditar no executivo camarário, apoiando e desenvolvendo um trabalho em articulação, em democracia com a participação ativa e com respeito, que foi o que nunca aconteceu.

J.A. – Se não tivesse o apoio da distrital do PSD, ponderaria avançar como independente?
F.A. – É um cenário que nunca coloquei. Agora, é verdade que sinto apoio da grande maioria da população que veio confirmado com uma recente sondagem encomendada pelo PSD, que me dá uma vitória expressiva sobre qualquer candidatura.

J.A. – As divergências entre você e o antigo presidente José Estevens começaram quando e porquê? A concelhia alega que “os desentendimentos cedo se manifestaram, logo na cerimónia da tomada de posse, quando o autarca/médico criticou acintosamente o legado autárquico do seu antecessor, o militante José Estevens”. E como espera que acabem?
F.A. – Nunca faltei ao respeito ao Dr. Estevens, ou seja a quem for. Já não posso dizer o contrário. Na câmara, repito, nunca senti qualquer apoio do Dr. Estevens ou do PSD local. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém, agora, o respeito para com o outro deve ser apanágio de qualquer ser humano. Essa do “criticou acintosamente” é mais uma das muitas invenções.

J.A. – O PSD de Castro Marim acusou-o de “afastar-se do programa eleitoral que os castromarinenses sufragaram maioritariamente nas urnas em 2013”. Como analisa o seu primeiro mandato à frente da Câmara de Castro Marim? (Quais as maiores conquistas e as maiores derrotas)?
F.A. – Mais uma inverdade. Estou a cumprir à risca o programa eleitoral que foi sufragado maioritariamente pelos castromarinenses. Desde a concretização das obras do mercado de Altura, mercado local de Castro Marim e a sua abertura, Espaço Multifuncional de Empresas, habitação social de Altura (agora em concurso), substituição de centenas de árvores em espaço urbano, o cais acostável de Castro Marim, apoio integral ao Centro de Intervenção, Desenvolvimento e Apoio à Freguesia de Odeleite, restauro dos altares de Odeleite, fecho da Rua da Alagoa, em Altura, criação de zona de sombreamento no centro escolar de Altura, alteração da forma de execução do Plano nº 1 de Altura, entre muitos outros, sem descurar o forte apoio social às populações. Lembro a entrega de sedes sociais às coletividades do concelho, o que impulsionou a atividade das mesmas, como por exemplo a Associação Mito Algarvio, a Associação Amendoeiras em Flor e a Associação Rodactiva, hoje com destaque internacional. Foi um mandato difícil para todos os autarcas do país. Em Alcoutim, tinha a casa arrumada. Cheguei aqui e Castro Marim é a câmara do Algarve com menos funcionários, com o parque automóvel envelhecido, maquinaria obsoleta, estradas e ruas esburacadas por todo o lado, dezenas de processos na barra dos tribunais, etc., etc.. Não tem sido nada fácil para quem, como eu, quer resolver os problemas e desenvolver um trabalho sério e com futuro. Com a boa equipa que tenho, com bons colaboradores autárquicos, vou conseguir.

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J.A. – O rol de críticas do PSD de Castro Marim à sua gestão vai desde “a perda de fundos comunitários de projetos decisivos”, como os casos da primeira fase do abastecimento de água, ao “abandono da materialização de um conjunto de instrumentos do ordenamento do território” e à “paralisação do processo de requalificação do património histórico edificado da vila de Castro Marim”. Quer comentar?
F.A. – Mais um rol de mentiras. A minha vice-presidente, Filomena Sintra, é uma das personalidades do Algarve mais conhecedoras de fundos comunitários. Nunca deixaria ir embora um tostão a que Castro Marim tivesse direito. Tudo está em andamento com maior eficácia, mais rigor e mais mobilização das partes envolvidas. Ainda recentemente foi aprovada uma candidatura superior a 4 milhões de euros, que prevê a colocação de água em 28 povoações. Estranho é não se lembrarem da candidatura que esteve aprovada durante dois anos para o investimento de 24 milhões de euros e que se perdeu em 2012.

J.A. – Falam, ainda, do crescimento exponencial de “construções ilegais” no concelho, a atribuição de subsídios sociais “alguns deles sem critérios”, “o pretenso voluntariado médico no Hospital de Faro, às quintas-feiras, às custas do município de Castro Marim” e as campanhas de desintoxicação tabágica e de combate à obesidade, “substituindo incompreensivelmente o Ministério da Saúde”…
F.A. – Tanto disparate junto. De facto, agora, temos uma divisão de urbanismo amiga do investidor e das pessoas que pretendem construir a sua habitação, o que antes não acontecia. Só quem não tem sensibilidade humana criticará as minhas idas regulares ao Hospital de Faro há 30 e tal anos, ainda eu não sonhava em ingressar na vida política. Faço voluntariado muitas vezes por solicitação de familiares e amigos, visito doentes internados e dou uma palavra de conforto. Também falo com os colegas para me inteirar das situações. E, às vezes, em algumas tão graves e terminais, torna-se tão importante o simples afeto. Até aqueles que hoje me criticam, me solicitaram várias vezes esse apoio. Este voluntariado que desenvolvo no Hospital de Faro, que me faz feliz, é tão importante para os doentes que visito. Irracionalmente, a minha oposição, seja interna ou externa, está muito incomodada por ter ajudado 250 pessoas a deixar de fumar. Ainda hoje os fumadores continuam a procurar-me. Estamos a falar de um programa municipal com elevadíssima taxa de sucesso. Pelos vistos, para a oposição, é uma coisa horrível. Programa de combate à obesidade? Substituir-me incompreensivelmente ao Ministério da Saúde? Experimente marcar uma consulta de obesidade no Hospital de Faro…

J.A. – E porque decidiu exonerar de cargos e funções influentes dirigentes do PSD, nomeando, por sua vez, a presidente da junta de freguesia de Altura, eleita nas listas do PS, para adjunta do seu gabinete?
F.A. – Sempre privilegiei a competência, à cor do cartão partidário. Quero pessoas competentes à minha volta para prestarem um bom serviço à população que me elegeu.

J.A. – E sobre a sua oposição socialista?
F.A. – Quando tenho um presidente da assembleia municipal socialista que afirma que não consegue ser isento e que a sua principal função é colocar paus na engrenagem do município, está tudo dito… Quando os vereadores socialistas votam contra o orçamento de 2017 porque não concordam que se construa uma ciclovia a ligar Castro Marim a Vila Real de Santo António e não concordam com a Praia Fluvial de Odeleite, também está tudo dito…

J.A. – Polémicas partidárias à parte, qual a área que considera mais prioritária no seu município e porquê?
F.A. – Pois, quando aqui cheguei deparei-me com uma guerrilha partidária sem tréguas entre socialistas e sociais-democratas. Guerrilhas essas que consumiam grande parte do tempo, sobrando muito pouco tempo para fazer alguma coisa de útil a este concelho. As áreas mais prioritárias são a colocação de água potável em todas as habitações, estradas e arruamentos condignos, criação de emprego e apoio ao investimento privado, tal como aconteceu com o Hotel da Praia Verde, cuja celeridade no processo permitiu a ampliação do hotel, que já esteve em funcionamento este verão, criando assim dezenas de postos de trabalho.

J.A. – Quais são as grandes obras previstas para 2017?
F.A. – Pavimentação de estradas e arruamentos em mau estado, como na vila de Castro Marim, Odeleite, Azinhal, Monte Francisco, Junqueira, Altura e Casa Alta. A colocação de água em várias povoações do concelho, com um investimento superior a 4 milhões de euros. Habitação social em Altura. Lar de Altura. Parques de Autocaravanas. Ciclovias. Praia Fluvial de Odeleite. Largo Paco de Lúcia. Envolvente da Casa do Sal.

J.A. – Qual a estratégia de futuro que delineou para o seu concelho e como imagina que ele será daqui a uma década?
F.A. – O concelho de Castro Marim tem um potencial enorme. Tem recursos naturais fantásticos. Desde as suas praias, que são das mais belas do país, passando pela Reserva Natural do Sapal, à beleza da serra algarvia, ao sal, à gastronomia e restauração, aos pequenos produtores locais, às suas gentes, à sociedade civil organizada, passando pelos muitos empresários ligados ao turismo, todos trabalhando em articulação e complementaridade, com o rico património histórico e cultural, com as ciclovias, parques de autocaravanismo, explorando também a proximidade com o país vizinho, tornaremos este concelho mais apetecível para se viver e visitar.

 

Nuno Couto | Jornal do Algarve

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