Basta de austeridade!
Infelizmente, para além das funções de director, à semelhança do que acontece na generalidade da imprensa regional, temos, também, funções administrativas e financeiras, que nos ocupam tempo e, muito particularmente, na atual conjuntura em que vivemos, nos tiram a tranquilidade necessária para a habitual reflexão, que marca a posição editorial do jornal. Este tem sido o motivo do nosso silêncio.
Contudo, apesar de, para nossa infelicidade, continuarmos a sentir na pele a mesma política de austeridade e os consequentes constrangimentos que nos mantêm inquietos e preocupados, decidimos que, a partir de hoje, procuraremos fazer ouvir a nossa voz, com a maior regularidade possível.
O tema desta semana, não pode ser outro senão a perspectiva de um maior empobrecimento das famílias e das empresas, em função do que se prevê, no próximo orçamento orçamento de Estado.
Aquilo que nos espera para 2014 é mais do mesmo. Mais e maior austeridade. Mais desemprego. Mais falências. Mais pobreza e mais miséria. E enquanto sentimos na pele o drama desta política que está a destruir o país, o governo de uma forma cínica e hipócrita, continua a querer convencer-nos que não há outro caminho e, agora, a proclamar até o fim da recessão. Enquanto se insisir nesta política ultra-liberal, em que nem sequer já as elites do PSD e do CDS acreditam, não haverá nem crescimento nem controle do déficit.
Depois de ter dito que em 2014 já não haverias mais cortes, o governo prepara-se para baixar, ainda mais, os vencimentos da função pública e cortar nas reformas e pensões. Está-se a esfolar os funcionários públicos e os mais pobres, quando o que se tinha prometido era cortar, principalmente, nas gorduras do Estado. Aliás, ao contrário das previsões do Governo, a despesa com os consumos intermédios do Estado vai ser, no final deste ano, mais 400 milhões de euros do que tinha sido previsto no primeiro orçamento rectificativo.
E esta é que é para nós a grande questão. Estamos a fazer sacrifícios para quê? A verdade é que, apesar da enorme carga de impostos e de uma feroz austeridade, o Governo não consegue cumprir as metas do déficit, que este ano deverá rondar os 5,9% do PIB.
Depois de tantos e enormes sacrifícios, o que temos é uma taxa de desemprego (16,5%) que é a quinta mais elevada da União Europeia, uma dívida pública que está nos 131,3% do PIB, mais cortes no rendimento das famílias, que já não aguentam mais e uma aumento da idade da reforma para os 66 anos. Para além de um programa cautelar que virá, depois da troika e que implicará ainda mais austeridade.
Em democracia, a legitimidade resulta do voto popular. Ora o que se verifica, depois da grande derrota eleitoral do PSD nas últimas autárquicas, é que este Governo já não tem legitimidade para governar e já se devia ter demitido ou sido demitido pelo presidente da República.