Feitas as contas, domingo há prémio. E castigo

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O PSD e o CDS vão perder milhares de votos em relação a 2011. Mas também vão ganhar outros tantos, fruto da recuperação económica. O PS vai ganhar milhares de votos em comparação aos obtidos em 2001, mas a memória do mau desempenho do Governo Sócrates vai ajudar a explicar porque é que os socialistas não capitalizam o descontentamento da população com as medidas “austeritárias” tomadas nos últimos quatro anos pelo Executivo. Quem o explica é Francisco José Veiga, professor da Universidade do Minho e autor de um estudo sobre as eleições em Portugal entre 1979 e 2005.

Apesar de todas as sondagens apontarem numa mesma direção – a derrota do PS no domingo -, as apostas só poderão ser feitas depois do desafio, porque os padrões de comportamento dos eleitores estudados pelos especialistas já não são o que eram. Vão em várias direções contraditórias. E em simultâneo.

No primeiro debate televisivo desta campanha, Pedro Passos Coelho deu o tiro de partida ao classificar como “austeritárias” as medidas adotadas pelo Governo para cumprir os compromissos previstos no memorando de entendimento entre Portugal e a troika. O som da palavra “austeritárias”, não prevista no dicionário, doeu nos ouvidos, mas, passado pouco tempo, ainda durante o debate, António Costa optou pelo mesmo adjetivo. Palavras iguais, candidatos diferentes, resultado imprevisível, como se prepara para ser o das próximas eleições legislativas. Pelo menos, a ter em conta a opinião dos investigadores de política.

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“É a economia, estúpido…”

Um artigo publicado em 2014 no “European Journal of Political Economy” não deixava dúvidas: de que forma o comportamento da economia influencia a participação e a decisão dos eleitores no momento de votar? O autor, Francisco José Veiga, professor de Economia na Universidade do Minho, explica ao Expresso que estudou, em conjunto com Rodrigo Martins da Universidade de Coimbra, o comportamento dos eleitores entre 1979 e 2005 e foi possível desenhar tendências, mas que, desta vez, nas eleições de 2015, não é possível fazer previsões seguras.

Os resultados das dez eleições legislativas analisadas indicam que os governos de direita perdem votos quando a comparência às urnas aumenta, situação que não afeta os partidos à esquerda. A comparência dos eleitores nas cabinas de voto também aumenta quando a diferença entre o partido do Governo e a oposição é mais estreita. E, sobretudo, as variáveis económicas funcionam num mecanismo de prémio ou castigo, conforme a gravidade da situação. Se a economia estiver muito bem, ou muito mal, os eleitores acorrem às assembleias de voto. E agora? Estamos bem ou estamos mal?

“É especial verdade que a situação económica afeta tanto a decisão de votar como o sentido de voto”, refere o estudo. Já não há tantas certezas sobre o sentido de voto em geral. A pesquisa refere ainda que os abstencionistas se situam mais à esquerda do espectro eleitoral e atuam segundo o raciocínio de prémio ou punição das equipas governamentais.

Quando em causa estão variáveis económicas como a taxa nacional de desemprego, a taxa de inflação ou o Produto Interno Bruto (PIB), a tendência de voto dos eleitores funcionará em consonância com a evolução dos indicadores. Ou seja, se a economia está bem, o voto é positivo para o Governo; se estiver em retrocesso, a oposição ganha eleitores.

“As variáveis macroeconómicas nacionais têm um efeito linear na comparência às urnas, com a presença dos eleitores a aumentar quando a situação económica é pior”, refere a investigação, para concluir que “os eleitores portugueses ficam mais motivados a votar e expressar a satisfação/insatisfação perante o Governo em exercício quando a situação económica é extrema”. No estudo, foram analisadas as votações de 278 autarquias ao longo de dez eleições.

E agora?

Foi assim até 2005. Mas e depois? Em 2005, o PS destronou o PSD ao ganhar com 45,03%, com uma taxa de participação de 64,26% e um desemprego de 7,1% no quarto trimestre de 2004, o valor mais elevado desde 1998. Em 2009, os socialistas voltam a vencer, mas foram penalizados pelos eleitores, tendo conquistado 35,56% dos votos com uma taxa de participação de 59,68%. Desta vez, o desemprego situava-se em 9,1% no segundo trimestre daquele ano, tendo crescido 1,9% em relação ao mesmo período de 2008.

As eleições legislativas de 2011 saldaram-se por uma vitória do PSD, com 38,66% e uma participação inferior à das eleições anteriores (58,03%). O desemprego continuava a subir (11,4%). Ou seja, o Governo em exercício foi penalizado e a tendência à direita beneficiou de uma menor comparência às urnas. E agora? Este ano, a taxa de desemprego é de 12,2% em agosto, mais do que os 11,9% do segundo trimestre deste ano, mas bastante menos do que os 17,8% de abril de 2013. Um bom ou um mau resultado? O suficiente para penalizar o Governo em exercício ou para premiar o principal partido da oposição?

“A cada vez menor probabilidade de o Governo cumprir a meta do défice para este ano e as notícias sobre o BPN prejudicam a coligação, mas o resultado líquido nos votos poderá não ser elevado, porque a má gestão das finanças públicas no governo Sócrates pode ter criado a imagem de menor competência do PS nestas matérias”, explica Francisco José Veiga, para quem, “em 2011, houve uma clara penalização do Governo socialista”.

Este domingo, acredita o investigador, “vai haver um misto de punição e de recompensa, mas é impossível prever como se vai comportar a maioria do eleitorado. O contexto de 2011 continuará a influenciar os eleitores, mas como a situação económica já não é tão extrema, o resultado final será uma incógnita até abrirem as urnas.

RE

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